sábado, abril 27, 2024
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Mate os idosos, salve o capital

Mate os idosos, salve o capital. O melhor seria dizer: mate os trabalhadores inativados, salve as famílias capitalistas. Mate os descartados do exército industrial de reserva, salve os parasitas. A receita para os malditos da civilização não se aplica aos idosos endinheirados – capitalistas e rentistas em geral. As classes improdutivas do sistema nunca serão descartadas enquanto conservarem seu capital e sua mais-valia.

Os ricos investidores do sistema são luxuosamente bem tratados na velhice, com os melhores médicos, os melhores hospitais. Gozam ilimitadamente das novas tecnologias da medicina capitalista e são conservados como verdadeiros matusaléns ambulantes. O prolongamento quantitativo (e a redução qualitativa) da existência dos parasitas é a grande especialidade da medicina da civilização.

O problema é se essa longevidade alienada se espalhasse para a classe dos trabalhadores produtivos. A quilométrica longevidade dos idosos improdutivos não é problema nem pesa formalmente nas contas públicas. Não preocupa os economistas.

O único problema desses parasitas é como conservar (e multiplicar) o seu capital. Para essa nobilíssima tarefa existem gigantescas empresas financeiras em todo o mundo que administram zelosamente suas fortunas.

Como a empresa norte-americana BlackRock, sediada em Nova York, apresentada pela revista Veja, edição 9 de Outubro, como “ a maior empresa de administração de investimentos do mundo”. A BlackRock administra as aplicações de cerca de 3,9 trilhões de dólares, um valor superior ao PIB da Alemanha.

A única coisa verdadeiramente importante da longa entrevista da revista, destacada porta-voz da ideologia imperialista no Brasil, com o presidente da BlackRock, um capitalista que atende pelo nome de Larry Fink, é sua certeira abordagem do problema da longevidade dos trabalhadores produtivos em todo o mundo.

Ao contrário do que acontece com a longevidade dos idosos capitalistas, que aparece como uma grande virtude, um milagre da medicina do sistema, a dos trabalhadores produtivos é um baita problema.

Um problema insolúvel, nas próprias palavras do Sr. Fink : “ As discussões giram em torno de como ajudar a classe média [é assim que os capitalistas norte-americanos designam a classe trabalhadora produtiva que depende das esmolas da Seguridade do Estado para se tratar e sobreviver], quais benefícios podem ser criados ou ampliados. Parece não haver, até o momento, a devida preocupação com os desafios impostos pela longevidade. Quando a previdência social foi criada nos Estados Unidos, nos anos 30, os trabalhadores se aposentavam aos 62 anos e morriam aos 67. Trata-se de uma situação diversa quando as pessoas passam a viver mais de 90 anos. Não existe sistema previdenciário no mundo, seja nos Estados Unidos, na China, no Brasil ou na Inglaterra, preparado para enfrentar o custo da longevidade.”

O Sr. Fink erra ao misturar os trabalhadores com as pessoas que “passam a viver mais de 90 anos”. Quem deve ter essa longevidade são aquelas pessoas endinheiradas que falamos acima.

Quanto aos trabalhadores, o mais provável é que continuem morrendo, em média, em torno dos mesmos 67 anos dos anos 1930. Ou menos. Isso acontece porque suas condições de existência – selvagem processo de trabalho, longas jornadas de trabalho, qualidade da alimentação, moradia, transporte urbano, assistência médica, etc. – pioraram muito com o processo de modernização e urbanização desenvolvido até os anos 2010.

Aumentou a pauperização absoluta das massas. Ao contrário do que acontece com as classes parasitas, a luta pela sobrevivência dos trabalhadores nas grandes cidades do mundo civilizado é cada vez mais insuportável. E mórbida.

Mas o Sr. Fink está absolutamente correto ao afirmar que “não existe sistema previdenciário no mundo, seja nos Estados Unidos, na China, no Brasil ou na Inglaterra, preparado para enfrentar o custo da longevidade”.

Ele está certo: só um idiota imagina que o regime capitalista possa garantir o aumento da longevidade e bem estar da grande maioria da população. O que ele está dizendo é exatamente isso: o “custo da longevidade das massas” é insuportável porque ele reduziria catastroficamente as altamente elásticas “receitas da longevidade do capital” e dos seus felizes proprietários.

É com base nessas sábias premissas enunciadas ingenuamente pelo presidente da BlackRock que se deve entender as encarniçadas disputas que ainda se arrastavam, neste sábado, dia 12 de Outubro, dentro do governo dos Estados Unidos pelas fatias do orçamento.

Quanto, de um lado, vai para a Seguridade Social (Previdência, Medicare, Medicaid…), esmolas que financiariam a sobrevivência das massas?

E de outro lado, quanto vai para a máquina militar-industrial, na forma de despesas correntes e imperialistas com defesa e com encomendas de armamentos, e, ainda, para as inúmeras esferas privadas da economia dos capitalistas – polícia, infraestrutura, indústrias civis, sistema financeiro, etc.?

Acertará quem apostar que o acordo sobre a elevação do teto da dívida será firmado entre a Casa Branca e o Congresso no começo da próxima semana, antes do prazo final de 17 de Outubro.

Acertará também quem apostar que os gastos do governo com a Seguridade Social ficarão virtualmente congelados por mais um exercício fiscal, enquanto os gastos com as diversas rubricas da Seguridade do Capital vão aumentar aceleradamente, na mesma velocidade da dívida e da falência do crédito público da maior potência econômica e militar do planeta.