quinta-feira, outubro 31, 2024
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Economia brasileira na antessala da câmara fria da depressão

por Fernando Grossman e José Martins, da redação.

A visita do presidente da República do Brasil e destrambelhada comitiva aos Estados Unidos, nesta semana, coincide com a divulgação de novos indicadores de agravamento da situação econômica do país para os próximos doze meses.

O nível de atividade da economia brasileira começou o ano de 2019 com retração, segundo informações divulgadas pelo Banco Central nesta segunda-feira (18). Em janeiro, o chamado Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br), considerado uma “prévia” do resultado do PIB, registrou um recuo de 0,41%, na comparação com dezembro de 2018.

A economia deslizando para um crescimento anual de 1%. Isso é grave, pois a partir de janeiro começou a imbicar para baixo. A luz amarela piscando no painel da pesada aeronave. O piloto volta os olhos para a evolução do IBC-BR acumulado em doze meses, como no gráfico abaixo preparado pela nossa redação.

Não se trata de mera estagnação da economia. Há clara tendência ao desabamento, pois a estagnação do produto passou a ser determinada por acelerada queda da produção industrial. Principio teórico in actu. As condições da produção de valor e de mais-valia é o que determina a dinâmica econômica geral.

Por isso pudemos antecipar essa tendência de queda do IBC-BR divulgada nesta semana pelo BCB em nosso boletim anterior (“Indústria brasileira: a galinha atropelada”) afirmando que “esses dados do núcleo duro da produção nacional permitem visualizar para o ano de 2019 um processo irreversível de grande queda da economia como um todo – incluindo-se aí todas as esferas improdutivas mensuradas no Produto Interno Bruto (PIB), como comércio, serviços, etc.”

Essa tendência ao desabamento pode ser verificada também com o mesmo rigor teórico na evolução da queda acumulada da Formação Bruta do Capital (FBK) no Brasil (em %) base = Janeiro 1914

Os dados originais são do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Curva elaborada pela redação da Crítica da Economia.

É impressionante essa evolução do investimento agregado na economia brasileira desde Janeiro de 2014. Acumulou queda de 31,6% até Janeiro de 2017. Em janeiro de 2019 acumulava queda de 26,2%. Quase 30% de queda depois de cinco anos! Só se mantém parada neste baixo patamar (não vai para a frente nem para trás) porque a economia global ainda se encontra no período de expansão cíclica.

É devido a essa estagnação dos investimentos que a  utilização da capacidade instalada também não anda. Essa ociosidade ou “desemprego do capital” é a contraface do enorme desemprego da força de trabalho. Que governo consegue se manter de pé nesta situação?

Essa crônica inviabilidade de valorização dos investimentos capitalistas em capital fixo é a melhor ilustração da antessala – da sala antes da entrada da câmara fria da depressão que se anuncia na maior economia da América do Sul para os próximos doze meses.

Essa previsão é diametralmente oposta ao discurso do governo e economistas do sistema. Para eles, agora comandados pelo seu novo guru Paulo “Chicago” Guedes, o Brasil agora vai dar certo! A economia e o emprego voltarão a crescer a taxas normais. Como? Destruindo a Previdência, ampliando a reforma trabalhista, privatizando tudo que tiver pela frente, escancarando o mercado interno e financeiro para todos os abutres “investidores externos” do mundo, mandando a China e os árabes para o inferno, etc.

Jair Messias Boçalnaro resumiu muito bem esse projeto da burguesia brasileira e imperialista para o Brasil em seu discurso (certamente escrito por algum funcionário do Departamento de Estado) em um banquete com investidores estadunidenses em Washington, nesta semana:

“ O Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas para nosso povo. Nós temos é que desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa. Para depois começar a fazer. Que eu sirva para que, pelo menos, eu possa ser um ponto de inflexão, já estou muito feliz” afirmou o simpático presidente da República.

Só que tem um problema no caminho deste projeto liberal. No mundo real, que dizer, imediato, a economia não pode continuar caindo como vimos acima, rumo ao desabamento. Como destruir tudo, como eles querem, sem desabar antes? Com eles juntos?

Por isso eles dependem desesperadamente que a situação atual de deslizamento da produção nacional seja imediatamente revertida e se abra um novo ciclo de expansão, mesmo que a taxas minimamente decentes como 2,5% a 3% ao ano.

Se não conseguirem essas taxas de crescimento, o atual processo de ingovernabilidade burguesa nacional se aprofundará com mais rapidez.

Diga-se, de passagem, que três meses depois da posse, o novo governo burguês instalado em Brasília já se esfacela em rivalidades internas, incapacidade de articulação política, e, finalmente, fortíssima queda nas pesquisas de opinião pública do Ibope, etc. Boçalnaro cada vez mais próximo dos índices de rejeição do saudoso Michel Temer.

Vão conseguir fazer a economia crescer em 2019 e 2020?  Eles garantem de pés juntos que sim. A esquerda revolucionária (na qual se situa a redação da Crítica da Economia) diz que não.

Trava-se aqui uma encarniçada luta teórica. Nem um pouco ideológica. A economia brasileira voltará a crescer ou não nos próximos trimestres? Façam suas apostas.

Os próprios estrategistas do governo estadunidense, em Washington, com maiores responsabilidades de garantidores da ordem e da propriedade privada no planeta, não apostam que essa recuperação acontecerá. Isso explica em grande medida sua nova estratégia imperialista para a América do Sul. Assunto a ser tratado em próximo boletim.