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Indústria brasileira: a galinha atropelada

José Martins, da redação.

Brasil urgente: produção industrial cai 0,8% e começa 2019 em ritmo abaixo do início do ano passado Quem informa é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em seu mais recente relatório sobre a produção industrial brasileira no mês de Janeiro 2019.

A produção industrial brasileira caiu 0,8% no primeiro mês do ano, com queda em 18 das 26 atividades pesquisadas, de acordo com a série com ajuste sazonal da Pesquisa Industrial Mensal divulgada hoje pelo IBGE. Já na comparação com o desempenho de janeiro de 2018, na série sem ajuste sazonal, a queda foi de 2,6%.

Apesar disso, a indústria ainda acumula alta residual de 0,5% nos últimos 12 meses. Deve ser seu último resíduo positivo com algum sinal de crescimento. Segundo o gerente da pesquisa do IBGE, André Macedo, o perfil do resultado negativo é bem disseminado em toda a indústria. “É uma produção industrial em ritmo abaixo da que encerrou 2018. No acumulado dos últimos 12 meses, ainda estamos no positivo, mas ele vem reduzindo a intensidade dessa expansão. Em julho de 2018, esse crescimento era de 3,4%. Ou seja, até nesse indicador, que está no campo positivo, vemos uma redução da intensidade do crescimento”.

Entre os grandes setores industriais, o estratégico Bens de Capital (produção de máquinas e equipamentos) caiu pesadamente. Queda de 3% em relação a dezembro e 7,7% frente a janeiro de 2018. É seu terceiro mês seguido de queda, acumulando redução de 10,2 % no período.

Essa queda na produção de máquinas e equipamentos revela tendência de forte retração na reprodução do capital fixo na economia como um todo. Pode revelar também processo irreversível de estagnação e sucateamento do aparelho produtivo nacional. A propriedade privada capitalista no Brasil ameaçada pelas suas próprias contradições.

Como vimos em boletins anteriores, além da falência e do fechamento generalizado das empresas do setor privado – caso da Ford Caminhões, Avianca, etc., nas últimas semanas – a burguesia brasileira e imperialista, que monopoliza a propriedade privada dos meios de produção do país, está impotente para garantir a reprodução dos meios de trabalho e de reprodução física da população brasileira. A miséria e o caos aumentam velozmente.

Esta é a base material da ingovernabilidade política das classes dominantes.

É importante comprovar os números deste processo também em  termos de variação pela Média Móvel Trimestral – que estatisticamente mostra melhor a tendência da produção como um processo e não apenas uma foto congelada.

Nestes termos, a indústria como um todo caiu 0,2% no trimestre encerrado em janeiro de 2019 frente ao nível do mês anterior, após variar 0,1% em dezembro de 2018, quando interrompeu a trajetória descendente iniciada em agosto de 2018.

Entre as grandes categorias econômicas, ainda nesta comparação, bens de capital (3,5%) teve a queda mais intensa em janeiro de 2019, que se soma às quedas observadas em novembro (-1,9%) e dezembro de 2018 (-2,4%).

Bens de consumo duráveis (-1,6%) e bens de consumo não duráveis (-0,3%) também recuaram, ambos no seu quinto mês seguido de queda e acumulando no período redução de 8,1% e 3,0%, respectivamente.

Esses dados do núcleo duro da produção nacional permitem visualizar um processo irreversível em 2019 de grande queda da economia como um todo – incluindo-se aí todos as esferas improdutivas mensuradas no Produto Interno Bruto (PIB), como comércio, serviços, etc. O desemprego da força de trabalho aumenta na rabeira.

André Macedo, do IBGE, anota que “A queda nos Bens de Capital de dezembro para janeiro está relacionada à baixa na produção de caminhões, bens de produção agrícola e máquinas e equipamentos industriais. Em relação a janeiro, Bens de Capital e Bens de Consumo Duráveis são os grupos que mostram maior perda, com acréscimo dos automóveis e eletrodomésticos da linha marrom”.

E complementa o atento economista que “as exportações em queda para a Argentina acabam sendo um pano de fundo importante para esse momento de queda da indústria automobilística como um todo. É um começo de 2019 mostrando perdas e uma característica de redução na produção de forma disseminada”, complementa.

Em boletim de quase um ano atrás  – com o preocupante título “A galinha está voando baixo” – a redação da Crítica da Economia continuava observando o renitente enfraquecimento da produção industrial brasileira. Era início de Maio 2018, uma semana antes da famosa greve dos caminhoneiros. A indústria já estava estagnada antes desta última acontecer, ao contrário do que afirmam os comentaristas do sistema.

Naquele momento, observava-se que o enfraquecimento poderia ser ainda mais profundo se a indústria não tivesse repetido um excepcional desempenho exportador no primeiro trimestre do ano. Leia-se exportação de automóveis montados para a Argentina e alguns outros países da América do Sul. Como se conseguiu essa proeza? Sem muito esforço. Seria exigir demais algum esforço da preguiçosa protoburguesia brasileira.

Tratou-se apenas de decisão estratégica das montadoras globais para não paralisar completamente a produção de suas fábricas no Brasil. Decisão política para segurar a governabilidade burguesa no Brasil.

Assim, a quantidade de manufaturados exportados aumentou 16,5% contra mero 1,9% no último trimestre de 2017. Mas, observava-se então que“esse desempenho altamente artificial pode desaparecer abruptamente se nossos hermanos portenhos se envolverem em paralisantes turbulências do mercado. Como, por exemplo, sucumbirem à crise cambial e financeira aberta nesta semana na praça de Buenos Aires”.

Concluía-se o boletim com a afirmação de que “um novo voo da galinha seria o cenário mais favorável (possível) para os capitalistas. Entretanto, no caso de um desabamento dos seus vizinhos importadores de automóveis e outros produtos industrializados, que poderia coincidir com um soluço mais forte da incerta recuperação da produção global, a galinha brasileira será cruelmente atropelada”.

Voltando para as altamente incertas e imprevisíveis turbulências deste primeiro trimestre de 2019. A economia mundial, ainda com a notável exceção da economia dos EUA, reguladora global, está afundando lentamente. Mas ainda não afundou. A redação da Crítica já está concluindo investigação dos dados mais recentes deste processo. Deve sair boletim a respeito ainda neste mês.

Mas o outro providencial galho em que a galinha brasileira ainda se empoleirava a um ano atrás, a economia argentina, agora está mais bambo do que nunca. Neste momento, a utilização da capacidade instalada da indústria argentina está próxima de 50%. Na indústria automobilística, destruída pela estratégia global e regional do imperialismo, está em residuais 15% !

Não à toa, portanto, os bens de consumo duráveis e de capital começam a derreter no reino de Boçalnaro e seus voluntariosos milicianos econômicos comandados por Paulo “Chicago” Guedes. A crise da reprodução do capital se instala nas duas maiores economia da América do Sul.

Situação atual e perspectiva, da forma mais sucinta possível e imaginável: a galinha brasileira, que até recentemente ainda voava baixo, mas pelo menos voava, doravante corre o risco real de ser atropelada pelo processo e voar pena para todo lado.

Um rico leque de oportunidades se abre para o decisivo processo de luta de classes em todo continente latino-americano. Marx e Engels sejam louvados!