por José Martins, da redação
O diagnóstico da Organização para o Comércio e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) para a economia mundial é sombrio.
Em seu mais recente relatório sobre as perspectivas globais a veneranda organização imperialista informa: a expansão global continua a perder força.
Mais rapidamente do que o previsto há alguns meses.
Prevê também que o crescimento global diminua ainda mais: de 3,6% em 2018 para 3,3% em 2019 e de 3,4% em 2020.
O crescimento foi revisado para baixo em quase todas as economias do G20. Mais marcadamente na área do euro em 2019 e 2020, impulsionado por fraqueza na Alemanha e na Itália, mas também no Japão, Inglaterra, Canadá, China, Turquia, etc.
O Brasil já deslizou para abaixo de 2,0% e a Argentina para (-) 1.5%.
Entretanto, o mais relevante no relatório é que a desaceleração da expansão cíclica na Europa tem sido mais inesperada que em outras áreas.
O crescimento do comércio dentro da União Europeia (EU) e com competidores externos está praticamente estagnado.
Veja no quadro acima que o crescimento previsto para este ano na Alemanha (0.7%) é a metade do ano passado (1.4%).
Gravíssimo: o que já era baixo agora tende à zero na grande economia reguladora da eurozona e União Europeia como um todo.
A eurozona – núcleo de economias dominantes na União Europeia – desaba de 1.8% para 1.0 % neste ano. Itália cai estrondosamente para abaixo de zero; a França desliza um pouco mais.
Outras economias dominantes fora da baleada eurozona merecem destaque nesta tendência ao desabamento global. O Japão, em especial, encontra-se literalmente estagnado desde o ano passado (0.7%).
A Inglaterra desaba na previsão da OCDE de 1.4% no ano passado para 0.8% neste ano.
A situação econômica de cada uma destas potências imperialistas merecem estudos aprofundados de prospecção econômica. Tarefa imensa. A OCDE faz apenas ligeiramente.
Dentre as economias dominadas do sistema global, além da brasileira e outras menos importantes, a chinesa é a que desperta mais preocupação dos capitalistas em todo o mundo.
Ninguém sabe aos certo a extensão da desaceleração atual na economia chinesa. Os dados estatísticos são sistematicamente manipulados pelo regime militar que dirige o país.
O que se sabe é que a burocracia dirigente de Pequim continua injetando gigantescos estímulos monetários e fiscais na economia: aumento da oferta de crédito; cortes de impostos; fortes investimentos em infraestrutura, etc.
Sem resultado. O que se destaca na avaliação da OCDE da economia chinesa é a dúvida quanto à eficácia dessas medidas burocrático-keynesianas para impedir a desaceleração.
O único resultado mais visível dessas medidas é altamente preocupante: a elevação do endividamento das empresas atinge um nível crítico, representando risco imediato de uma grande crise financeira na China.
A crise financeira chinesa deve explodir pouco antes da crise propriamente dita da produção industrial
Finalmente, outro elemento importante da atual quadratura do ciclo captado pela OCDE. Talvez o mais importante. Trata-se do incrível descolamento do crescimento das grandes economias mundiais frente à dos Estados Unidos. Particularmente a economia europeia, como é ilustrado no gráfico abaixo.
No gráfico de colunas à esquerda destaca-se a forte desaceleração do produto mundial depois de atingir seu pico em 2017.
Mais notável ainda, como é ilustrado pelo gráfico a direita, como essa desaceleração global pós 2017 foi acompanhada por uma brusca dispersão do crescimento da eurozona (linha azul no gráfico) frente ao dos EUA (linha vermelha).
Esse fenômeno age como uma variável de elevadíssima força para se considerar que um choque global está mais do que maduro para explodir nos próximos trimestres de 2019. Alemanha e restantes economias europeias candidatam-se ao primeiro lugar da fila
Todas as economias do mercado mundial, em maior ou menor grau, foram internadas na UTI, respirando por aparelho.
Todas grandes economias mundiais dependendo unicamente do que se passa na economia dos EUA, a única que ainda ostenta clara expansão da produção, do produto e dos lucros industriais.
Isso é inédito na história econômica do pós-guerra.
É a primeira vez, nos últimos setenta anos, que acontece esse claríssimo descolamento (para baixo) da totalidade da economia mundial frente à economia de ponta do sistema.
Até agora, as três grandes economias dominantes (EUA, Alemanha e Japão) mantinham-se disciplinadamente sincronizadas na evolução dos sucessivos ciclos periódicos de superprodução.
As economias dominadas da periferia é que desabavam e sofriam os maiores impactos e consequências das crises.
As crises apareciam com mais gravidade nos elos fracos do sistema, que não dispõem dos mecanismos anticíclicos das dominantes.
Os mecanismos anticíclicos ainda funcionavam no centro do sistema. Assim, todas as crises econômicas globais do período pós-guerra foram crises parciais exatamente pelo fato que a crise geral (catastrófica) nunca alcançava o coração do sistema.
As crises catastróficas ocorridas na periferia (na Argentina, por exemplo) nunca passaram nem perto das crises parciais ocorridas nos EUA, Alemanha e Japão.
São estas três economias dominantes que determinam o caráter parcial ou geral da crises que se manifestam periodicamente no mercado mundial.
Agora, repita-se, apresenta-se esta situação inédita no período pós-guerra. Mais decisivamente do que em ciclos anteriores – particularmente no mais recente, encerrado com a crise parcial de 2008/2009 – o desenlace do atual ciclo periódico de superprodução de capital depende da quebra catastrófica da economia dos EUA.
Portanto, doravante o foco da análise deve ser total nos mínimos detalhes de funcionamento da economia estadunidense.
É o que nossa equipe de redação já está fazendo nas últimas semanas. Observando as condições imediatas (e endógenas) de funcionamento daquela poderosa e determinante máquina produtora de valor e de mais-valia.
Estaremos publicando proximamente os resultados dessas nossas observações diárias.