domingo, abril 28, 2024
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Mauricio Macri perde controle da economia e trabalhadores decretam greve geral

A economia argentina está derretendo nesta quinta-feira (30). Na tarde de ontem o mercado de moedas argentino já havia entrado em uma corrida desenfreada. O dólar subiu 2,40 pesos e a moeda argentina desvalorizou em mais 7,5%. O dólar disparou para 35 pesos, depois de ter fechado no dia anterior em 32 pesos.

A corrida de ontem iniciou logo depois que o presidente da República da Argentina, Maurício Macri, anunciou que o Fundo Monetário Internacional (FMI) adiantará os fundos necessários para o pagamento da dívida pública que vence nos próximos doze meses.

O acordo com o FMI no começo deste ano previa um crédito de US$ 50 bilhões a serem desembolsados em parcelas mensais durante trinta meses. Macri não detalhou quanto será adiantado agora, mas muita gente acredita que nem mesmo o adiantamento de uma só vez dos US$ 50 bilhões seria suficiente para interromper de vez a desenfreada corrida contra a moeda argentina.

O Banco Central vendeu outros 300 milhões de dólares durante o dia na tentativa de frear a corrida. Foram logo engolidos pelo mercado e a corrida continuou seu curso natural.

Para o mercado e demais parasitas da “pátria financeira”, o anúncio de Macri soou como que a situação financeira do país está entrando no perigoso terreno da moratória das dívidas públicas e privadas.

Soou como a confissão de incapacidade do próprio Macri e de sua equipe econômica ultraliberal de darem conta da delicadíssima situação econômica do país.

Pouca gente ainda acredita que as dívidas argentinas públicas e privadas possam ser pagas ou renovadas pelos credores; são indexadas ao dólar e com vencimentos no curto-prazo, para os próximos semestres. Cada ponto percentual de desvalorização do peso aumenta brutalmente o volume dessas dívidas a serem pagas proximamente. Situação de verdadeiro impasse.

Para a população trabalhadora, por outro lado, a confissão de incompetência de Macri para controlar a situação apenas confirmou isso que todo mundo já sabia – que a Argentina está se tornando ingovernável e que seu governo aprofundará mais rapidamente o plano de austeridade já embutido no pacote do FMI, piorando gravemente as já deterioradas condições de sobrevivência, de desemprego crescente e da fome pura e simples de grande parte da população.

A receita do governo é mais ajuste. Erradicar definitivamente o déficit fiscal! Como? Mais “reformas” trabalhistas e da Previdência, cortes de gastos sociais, aumento de gastos com juros e com polícia militar, etc.

Do mesmo modo que em todas as demais economias da América Latina, eles são incapazes de qualquer medida diferente desse protocolo imperialista para resolver os problemas econômicos nacionais.

Para que não pairasse nenhuma dúvida quanto a isso e para “tranquilizar o mercado”, o próprio ministro argentino da Fazenda, Nicolás Dujovne, soltou comunicado no começo da noite de quarta-feira, depois que os bancos e os mercados já estavam fechados: “ O único caminho para que a Argentina saia das turbulências é erradicar definitivamente o déficit fiscal. Vamos fazê-lo o mais rápido possível”.

Tentava “acalmar o mercado”. Entretanto, mais do que as palavras do comunicado seu chefe Macri, as de Dujovne parecem ter sido muito mais incendiárias. Um enorme caminhão pipa de gasolina para apagar o incêndio.

Quando o mercado abriu nesta quinta-feira (30) a desvalorização continuava a se intensificar com muito mais virulência. A mais de uma hora do fechamento dos bancos, o dólar era vendido a um máximo de 42 pesos em bancos e casas de câmbio da cidade de Buenos Aires.

Para conter a corrida, o Banco Central anunciou logo de manhã uma elevação da taxa básica de juros para 60% ao ano. E injetou, depois dos 300 milhões de dólares de ontem, mais 500 milhões nesta quinta-feira. Com esse saco de loucuras até que conseguiram reduzir um pouco o preço do dólar, para 39 pesos. Mas depois do meio-dia, o gatilho foi reativado e o dólar estava sendo negociado em torno de 41 pesos.

Nenhuma tentativa do governo de tranquilizar os mercados dá resultado. Hoje, minutos depois que Marcos Peña, chefe de Gabinete da presidência, saiu para tentar acalmar a manada o mercado voltou a dar as costas para ele. “Temos que continuar trabalhando. Nós não acreditamos que estamos enfrentando um fracasso econômico, muito menos. A Argentina vai progredir e se fortalecer … todos os indicadores dizem”, disse Peña nesta manhã, ao descartar uma mudança no gabinete, já que” não há soluções mágicas nesse sentido “. Os mercados também não escutaram.

A resposta dos trabalhadores a essa catástrofe argentina já tinha vindo na data de ontem (29). A CGT, maior central sindical do país, anunciou greve geral para o dia 25 de Setembro, a quarta ‘medida de fuerza’ convocada contra o governo Macri.

A proposta de greve surgiu na plenária da CGT que se desenrolavs no Teatro Empire, no bairro portenho de Monserat. Conforme o comunicado da entidade, os secretários gerais de diversos sindicatos colocaram “a necessidade de uma ‘medida de fuerza’ para defender os direitos dos trabalhadores e repudiar a crítica situação econômica”.

Além da CGT, também nesta terça-feira os trabalhadores das duas CTA – Central dos Trabajadores de Argentina e Autónoma – convocaram greve de 36 horas a partir de 24 de Setembro, um dia antes da medida de fuerza convocada pela CGT contra as políticas de ajuste do governo de Mauricio Macri e seu “plan sistemático de hambre”.

Em seu comunicado conjunto as duas CTA anunciam: ” A greve ativa será completada com uma mobilização em direção à Plaza de Mayo, e um dia depois se decidirá sobre sua continuidade, em consonância com o restante do movimento operário”.

Em entrevista de imprensa junto com Pablo Michelli, dirigente do Autónoma, o secretário-geral da CTA dos Trabalhadores, Hugo Yasky declara ao povo argentino: “Nós estaremos mobilizados, em greve, prontos para lutar ao lado dos trabalhadores que resistem às demissões e a este plano sistemático de fome. Estaremos mobilizados na frente do Congresso quando o orçamento estiver sendo decidido, este orçamento do Fundo Monetário Internacional, que nada mais é do que o aprofundamento do ajuste, dos cortes, da fome “.

Juntos, os líderes anunciaram que “a medida de força faz parte do plano de ação que será desenvolvido ao longo de setembro contra a política do governo nacional, que é a mesma do FMI”. E concluíram: “Eles acreditam que priorizando a especulação financeira parasitária sobre a produção o país seguirá em frente. Sabemos que dessa forma não há futuro, não só para nós, mas também para nossos filhos “.

No mesmo dia, inúmeros movimentos sociais dos bairros aderiram à greve das centrais operárias, mas, diferenciando da proposta destas últimas, farão protestos ativos, com barreiras em rodovias e ações que denunciem a gravidade da situação de emergência social.

O concreto é que, para os movimentos sociais nos bairros, a situação, sempre salientando suas próprias palavras “não dá mais para segurar” e, portanto, “exigem uma resposta mais clara para a situação”.

Neste momento, o problema imediato da população trabalhadora da Argentina e desses movimentos sociais dos bairros é, além do desemprego, a fome pura e simples. O elemento chave da chamada “Lei da Emergência Alimentar” do governo argentino tem a ver com a impossibilidade de acesso de parcelas crescentes da população aos alimentos e com a má nutrição.

De acordo com estudo publicado recentemente pelo Instituto de Investigação Social, Econômica e Política Cidadã, a má nutrição afeta 48% das crianças e jovens (faixa etária 2-19 anos) na província de Buenos Aires.

O mesmo instituto revela, num estudo divulgado no dia 1 de Outubro, que 28,6% dos argentinos se encontra em situação de pobreza extrema e 6,2% em situação de indigência. Metade dos argentinos pobres vive na região da Grande Buenos Aires, onde se concentra aproximadamente um quarto da população do país.

Os movimentos sociais argentinos atravessaram os últimos meses pressionados pela população desempregada demandando por comida em seus ‘comedores’. Um indicador dessa situação é que eles não pedem mais socorro apenas ao governo, mas também os supermercados. Sem resposta de nenhum deles.

Com a atual disparada do dólar e seu impacto nos preços dos alimentos e dos alugueis, os tempos que virão serão ainda mais difíceis para todos os operários da Argentina, empregados ou desempregados.

A classe operária da Argentina é a mais tradicional, a mais preparada teoricamente e a mais combativa de toda a América Latina.

A partir da catástrofe reproduzida neste ano pelos seus capitalistas e pela economia do imperialismo, mais uma vez, ela terá que se colocar novamente em movimento, como foi ensaiado na crise catastrófica de 2001 e 2002.

Como a velha toupeira que novamente emerge com sua solução teórica (programática) para a catástrofe social concreta e imediata.

É por isso que os demais operários de todo o mundo terão nos próximos meses muito o que aprender (e a fazer em seus países) com a possível nova insurgência de seus irmão que trabalham e que produzem capital na Argentina. Estaremos com eles. Agora e sempre.