Quer entender melhor Donald Trump? Esqueça Donald Trump. Ou melhor, trate-o apenas como o novo chefe de governo dos EUA. A história não é feita pelos grandes homens. Muito menos pelos pequenos, como os mais recentes presidentes norte-americanos: Bush, Obama e agora Trump. Mais importante do que a atual troca de presidentes na Casa Branca o que realmente muda nesta virada de 2016 para 2017 são as circunstâncias de governabilidade da maior potência econômica e militar do planeta. São coisas materiais mudando como nunca. Como não se via desde os anos 1930. A política interna e externa do governo dos EUA vai mudar. Já está mudando. E as cadeiras começam a dançar no universo.
Já abordamos essas mudanças anteriormente em nosso boletim semanal. Agora as manobras políticas estão mais exasperadas do que alguns meses atrás. Exprimem dramaticamente a situação econômica global que deve se aprofundar em 2017. Depois de quase oito anos de expansão da produção de capital, que coincidiu milimétricamente com mandato de Obama, a economia de ponta do mercado mundial está escancarada para um novo período de crise. Perigosamente vulnerável.
A única coisa que se pode afirmar com certeza em tudo isso é que esse novo período será o mais devastador dos últimos setenta anos. Sua profundidade será revelada no desenrolar da luta de classes e dos conflitos geopolíticos que devem se intensificar nos próximos doze meses. Os serviços de inteligência do império acendem o sinal amarelo e o governo norte-americano se mexe. As burguesias das economias dominantes se desunem.
Ninguém pode afirmar seguramente a virtual amplitude da próxima crise. Parcial ou geral? Por enquanto, com o máximo de cautela possível, como deve ser, o que se pode afirmar é o seguinte: mais do que nos choques cíclicos anteriores, a possibilidade de uma crise geral (catastrófica) não deve ser descartada. É muito mais provável que ocorra agora que anteriormente. A nova política do governo norte-americano exprime essa probabilidade.
Até agora, todas as crises econômicas cíclicas e periódicas de superprodução do capital neste chamado “pós-guerra” foram parciais. Desde o final da 2ª Grande Guerra, as catástrofes econômicas e seu séquito de guerras e revoluções ocorreram apenas na periferia do sistema. Guerras e revoluções políticas nacionais circunscritas na periferia do sistema. A velha toupeira barrada para longe da superfície.
Se o choque que se aproxima transbordar para uma crise geral esse dique de governabilidade imperialista do pós-guerra pode ser rompido. Neste caso, o eixo da luta de classes, das guerras e das revoluções deve necessariamente se deslocar para o coração do sistema. Essa ameaça já é detectada nos radares dos serviços de inteligência dos EUA e de outras potências geopolíticas mundiais. A nova política do governo norte-americano e seu novo presidente nascem exatamente para defender a pátria do capitalismo desta ameaça.
Na análise dos próximos e imediatos desdobramentos políticos e geopolíticos globais essas determinações materiais imediatas são mais importantes do que estamos acostumados. É uma situação muito especial. Também já não é tão importante datar a explosão futura da crise. Doravante, essa explosão pode acontecer a qualquer momento. A superprodução de capital já atingiu nova maturidade cíclica. A instabilidade do sistema aumenta para níveis proibitivos. Trata-se agora de acompanhar seu desenlace. Ao agir politicamente para tentar evitar que a crise parcial transborde para uma crise geral em seus respectivos países, os governos capitalistas nacionais estarão apressando ao mesmo tempo a paralização e crise do mercado mundial. Este efeito político desestabilizador será modulado pela nova política norte-americana.
Insistimos que levar em conta essa forte possibilidade de uma crise catastrófica, nos próximos dois anos, no coração do sistema, é condição essencial para uma análise mais precisa sobre a natureza e as perspectivas do governo norte-americano recém-empossado. O que se sabe é que os serviços de inteligência e de estudos estratégicos de Washington já trabalham fortemente com essa possibilidade de crise geral. A evidente pobreza da classe trabalhadora norte-americana exige prevenções políticas burguesas. O governo norte-americano acelera preparativos para enfrentar em seu país uma crise econômica e social que já emite claros sinais prodrômicos. Mesmo que essa nova política vire o mundo de ponta cabeça. Washington não é mais capaz de jogar o papel de gendarme da pax imperialista do pós-guerra. América First.
Nestas novas e ameaçadoras circunstâncias materiais à governabilidade capitalista Trump é um individuo plenamente credenciado para desempenhar o papel de chefe de governo da maior potência imperialista do globo? Depois das suas ações em suas duas primeiras semanas na Casa Branca ninguém deveria ter mais esse tipo de dúvida. Go Donald Go!