A grande roda do mercado mundial gira no ritmo e na velocidade dos chamados Investimentos Externos Diretos (IED). Sem se importar com o que especulam os catastrofistas da economia vulgar – segundo os quais desde 2008/2009 o capital estacionou em uma suposta longa estagnação – os IED não param de crescer. Espalham-se por todos os poros do globo terrestre. Ampliadamente. Reprodução planetária do capital. Do mesmo modo que o exército industrial de reserva (EIR) globalizado. Juntos, organicamente fundidos, IED e EIR realizam a base material do mercado mundial especificamente capitalista. Vamos aos números.
Em seu mais recente relatório de 2016 sobre os investimentos externos globais, a UNCTAD, sigla em inglês para United Nations Conference on Trade and Development, instituição imperialista das Nações Unidas que coleta e divulga os dados sobre o IED global, destaca que “A recuperação dos IED foi forte em 2015. Os investimentos externos diretos globais saltaram 38%, para US$ 1.76 trilhões, seu nível mais elevado desde a crise econômico-financeira global de 2008-2009. A subida das fusões e incorporações transfronteiras de US$ 432 bilhões, em 2014, para US$ 721 bilhões em 2015 foi o principal fator por trás desta expansão global. O valor dos investimentos diretos externos para a ampliação do capital instalado das empresas (greenfield investment) permaneceu no elevado patamar de US$ 766 bilhões”.
Os fluxos de IED em direção às economias dominantes da União Europeia e Estados Unidos dobraram para U$ 962 bilhões. No Japão o IED é residual. Como resultado, essas economias do centro do sistema reverteram a seu favor a balança de IED, absorvendo 55 por cento do fluxo global em 2015, subindo de 41 por cento de participação em 2014. Nas economias dominadas, por seu lado, as entradas de IED alcançaram novo recorde de US$ 765 bilhões, cerca de 9% acima de 2014. As dominadas asiáticas, com fluxo de aproximadamente meio trilhão de dólares, permaneceram como a região maior absorvedora de IED no mundo. Fluxos para África e América Latina sofreram redução em 2015.
São números absolutos e, portanto, altamente oscilantes de um ano para outro. O importante é procurar nas séries históricas da UNCTAD as tendências de médio e longo prazo das diversas regiões e economias, principalmente nos últimos quinze anos, na passagem do ciclo econômico 2002/2008 para o atual, iniciado em 2009. Os valores absolutos também devem ser relativizados ao tamanho do PIB de cada economia. Capta-se assim um movimento mais qualitativo do processo. Em seguida, deve-se, além dos fluxos anuais, verificar a evolução do estoque de IED nas poucas economias que concentram quase dois terços do estoque mundial de IED.
As economias dominadas continuam registrando a metade das 10 maiores economias receptoras de fluxos de IED. No longo prazo, o Brasil se mantém entre as cinco maiores receptadoras do mercado mundial. Passivamente, pois registra participação residual de exportadora destes fluxos internacionais de investimentos. O Brasil não exporta capital, só recebe. Esse papel mais ativo de exportadoras de capital é exercido de maneira quase monolítica pelas economias dominantes do G7, grupo das sete maiores economias do mundo: EUA, Alemanha, Japão, França, Inglaterra, Itália e Canadá. Com pequenos coadjuvantes “sem direito a voto”: países escandinavos, Holanda, Áustria e Suíça.
O G7 compõe o clube seleto e dominante da economia do imperialismo. Absolutamente fechado a qualquer novo aspirante a sócio – desde pelo menos a virada do século 19 para o século 20. E assim continuará até que a morte, quer dizer, uma grande crise catastrófica, os separe. Os atuais dirigentes chineses alimentam o sonho de serem admitidos neste clube. Pura ingenuidade. Imaginam que para ser grande exportador de capitais basta ser grande exportador de mercadorias ou ter grande volume de reservas internacionais – pura pobreza teórica acerca da dinâmica capitalista global e das fases históricas do atual modo de produção.
Dado muito importante: o fluxo de IED que entrou no Brasil em 2015 (sempre com dados da UNCTAD) é relativamente muito maior que o registrado na China e em outras grandes economias dominadas da periferia do sistema. Enquanto no Brasil o fluxo de IED de US$ 64,64 bilhões em relação ao PIB de US$ 1,53 trilhões representou 4.22%, na China o fluxo de US$ 135,61 bilhões em relação ao PIB de US$ 10,33 trilhões representou apenas 1.30%. Na Índia, outra grande economia dominada que se destaca no cardápio do capital global, essa relação não passa de 2.2% Isso sugere fortemente que em 2015 a economia brasileira era um espaço de valorização do capital produtor de mais-valia e de lucro muitas vezes mais fértil que as economias chinesas e indiana juntas.
A regra é clara: o capital se movimenta mais intensamente em direção de economias nacionais onde as condições reais de valorização (taxa de lucro) são mais favoráveis. Esta regra geral de como se movimenta o capital pode ser mais bem comprovada com a tendência de médio e longo prazo do estoque de IED nas principais regiões e economias do sistema. Como se reparte espacialmente, geograficamente, a acumulação do capital global, esta é a questão. É justamente esta investigação que estaremos completando em nosso próximo boletim semanal. Em tempo real.