por José Martins, da redação
Depois de recentes espasmos de valorizações as principais bolsas de valores não funcionaram bem na semana terminada na sexta-feira (26). Em nova York, o preços das ações tiveram fortes quedas. O S&P 500, índice que mede o valor das ações das 500 maiores empresas do pais, perdeu 75 pontos (- 2,42%) na sexta-feira e terminou a semana com uma perda de 3%.
O gráfico acima atualiza a trajetória do S&P 500 neste ano. Apesar do “maior rally de 50 dias da história”, analisado no boletim anterior, o mercado de ações mostra com mais clareza nesta semana uma hipótese mais remota de “ganhos pela frente”, como os capitalistas ainda acreditavam a poucos dias atrás.
O gráfico reafirma a hipótese contrária a esta ilusão de volta do crescimento dos preços e dos lucros. Aponta mais para uma difícil retomada – ou, mais objetivamente, uma difícil elevação para os 3230 pontos de 31 de dezembro de 2019. Muito menos ainda para o pico de todos os tempos (3380 pontos) alcançado em 3 de fevereiro último.
Pouca gente bem informada acredita mais nestes milagres; que se possa recuperar do prejuízo deste ano – o S&P 500 perdeu quase 7% desde o começo deste ano. Sua valorização em um ano já caiu para 3,27%; um pequeno ganho que pode ser apagado nos próximos dias, dependendo de dados estratégicos da economia que serão divulgados nesta semana.
Os melhores economistas de Wall Street estão preocupados com o que vem de fato no segundo semestre deste ano. “Não é muito comum”, dizem eles, “o mercado estar sentado sobre essas perdas perto de meio ano”.
E completam: em um ano normal, frente a uma queda de 7% do S&P 500 até a metade do ano, as pessoas estariam perguntando: “o que deu errado?”. Mas agora, constatam com certa angústia, o que todos perguntam é: “por que não diminui muito mais?”
A resposta pode ser encontrada na ilusória e fortíssima tese, até agora, de um retorno ao crescimento econômico e dos providenciais ganhos a partir do terceiro trimestre do ano. A quase totalidade dos economistas e capitalistas em geral acreditavam até as últimas semanas neste retorno em V da economia: bate no chão e volta triunfante para novo ciclo de ganhos e crescimento.
Pelo menos as bolsas de valores, bem ou mal, mostraram este comportamento cíclico. Pelo menos a sua possibilidade. Mas faltou combinarem a sua otimista recuperação em V com as condições reais da economia, com a produção do capital e dos lucros.
Agora chegou a hora da verdade. A segunda metade do ano será o momento de ‘mostre-me’ para os que apostaram pesado na expectativa de uma recuperação em forma de V da economia real após o “desligamento do coronavírus”. A economia mundial começa a sair do coma induzido…
Como escreve Patti Domm, da CNBC, a partir da próxima semana, o mercado terá que provar sua tese de um forte retorno ao crescimento econômico, “A segunda metade do ano precisa ser um período de ‘mostre-me’, provando que nosso otimismo foi justificado. Precisamos ver melhorias contínuas nos dados econômicos, e acho que precisamos rever para cima as perspectivas de ganhos”.
O primeiro grande teste para esta perspectiva crucial de ganhos crescentes será o relatório de empregos de junho, a ser divulgado nesta quinta-feira. Economistas do mercado preveem que 3 milhões de empregos tenham sido criados com a abertura da economia, seguindo-se ao ganho surpresa do mês de maio de 2,5 milhões.
Patti Domm lembra, finalmente, que o desempenho do segundo semestre também depende de contínuas ações fiscais e monetárias dos governos. Nisto estamos totalmente de acordo com ela. Afinal, o trêmulo e vacilante V das bolsas de valores do mundo – muito mais ciclotímico do que verdadeiramente cíclico – se sustentou até agora apenas nas injeções fiscais e monetárias dos governos e bancos centrais nas principais economias do mercado mundial.
Mas as esperançosas expectativas que ainda restam dos economistas do mercado serão duramente contrariadas, pois os preços de mercado dos ativos financeiros em geral devem cair doravante sob o peso de ganhos decrescentes no atual período de crise.
A economia política dos trabalhadores ensina que nos períodos de crises gerais estas voluntariosas políticas fiscais e monetárias são absolutamente insuficientes para garantir por muito tempo elevações autônomas dos preços dos ativos financeiros da economia enquanto os preços das mercadorias-capital continuam afundando na deflação.
Além disso, este hiperativísmo anticíclico dos governos e bancos centrais apresentam-se como altamente desestabilizador dos já estressados mecanismos e balanços tanto do crédito público (orçamento e divida púbica) quanto do crédito privado das empresas capitalistas.
Esta grave desestabilização do crédito público e da moeda nas principais economias deve se manifestar de maneira prática nos próximos trimestres porque, enquanto crise geral, o choque cíclico atual é dez vezes mais destrutivo que o mais recente de 2008/2009, que resultou de uma crise parcial.
Estes acontecimentos práticos servirão também para comprovar que a autonomia do capital fictício e dos possíveis mecanismos da política macroeconômica têm limites fortemente enraizados na produção real de capital e de lucro do capital industrial.
A história das crises gerais nos últimos duzentos anos é contada em grande parte pelo abrupto esgotamento desta autonomia do capital fictício. Este esgotamento ocorre sob a ação fulminante da lei do valor trabalho e correspondente desaparecimento dos lucros esperados (deflação) sobre os preços da totalidade dos ativos financeiros da economia.
Faltou, portanto, aos capitalistas – que acreditaram neste 1º semestre de 2020 em uma ilusória curva cíclica em V – combinarem com o mundo real, com a economia real, com a esfera que realmente produz o valor e os lucros, com quem poderia efetivamente sustentar a retomada cíclica dos preços das ações.
E o que vai acontecer no terceiro trimestre do ano, que começa nesta semana, será a hora para comprovar tudo isso. A economia mundial começa a sair do coma induzido…
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