sábado, abril 27, 2024
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Wall Street balança (e o resto do mundo desaba)

por José Martins, da redação.

Nesta quinta feira (5), o mundo inteiro olhava nervosamente para o que estava acontecendo em uma pequena rua no coração de Nova York, chamada Wall Street.

É o endereço da principal bolsa de valores do mundo. É ali, portanto, que se pode observar e acompanhar da maneira mais real possível os movimentos mais abstratos do ser capital. Não de uma coisa imprecisa, aleatória, mas com a concretude do próprio movimento avassalador de produção, comércio e acumulação do capital mundial. Das condições e limites de sua reprodução ampliada.

Existem motivos para nervosismo de quem anda observando o que acontece nos últimos dias em Wall Street. O que anda acontecendo com os preços das ações e de outros estratégicos papéis do sistema financeiro da maior potencia econômica mundial.

Fortes motivos. Primeiro, porque se trata da economia de ponta da economia mundial. Quer dizer, a que regula o preço de produção regulador de mercado, a produtividade média e a taxa geral de lucro do mercado mundial. Regula, consequentemente, os ciclos periódicos de expansão e crise da economia mundial.

Outro motivo é que nestes momentos finais de mais um longo período de expansão cíclica global – dez anos, precisamente – a economia estadunidense é a única que ainda não apresenta drásticos sinais de esgotamento da fase de expansão – ao contrário do que já ocorre, como observado no boletim anterior da Crítica, com Alemanha, Japão, China e outras importantes economias.

Em resumo, a importância da economia dos EUA neste momento não é mais a de regular e comandar a expansão global, que já concluída, mas a de anunciar o início e a forma (parcial ou geral) do mais potente choque econômico desde os anos 1930.

Como já observamos também, em inúmeros boletins anteriores, nos últimos anos, dois gatilhos deveriam ser acionados para a abertura do novo período de crise global. O primeiro seria uma radical interrupção da produção industrial da China, o “chão de fábrica do mundo”. Como já é de amplo conhecimento público, este gatilho acaba de ser acionado.

A novidade é que o gatilho chinês veio embalado pela espetacular mistificação do novo coronavírus. Já houve outros coronavírus, mas não tão propagandeados como o atual.

O problema é que todas as análises econômicas da atual explosão econômica global aparecem poluídas por uma asneira da sociedade do espetáculo.

Como providencial álibi para os capitalistas de todo o mundo, as turbulências atuais do mercado que eles mesmos criaram aparecem apenas como resíduo deste obscuro vírus de mais uma cepa corriqueira de tantas outras gripes.

Mais além desta asneira, o segundo e definitivo gatilho para a abertura oficial da crise global será a derrocada dos preços das ações na maior bolsa de valores do mundo. Exatamente naquela pequena rua localizada no coração de Nova York.

Neste sentido, o que aconteceu nesta quinta-feira foi extremamente animador – pelo menos para os integrantes da redação da Crítica, sedentos de boas notícias sobre a necrologia do vírus capital.

Os preços das ações afundaram pesadamente e os rendimentos dos títulos do Tesouro caíram para novos mínimos. Continuou, assim, uma vigorosa turbulência do mercado. Enervando ainda mais os capitalistas em todo o mundo o que eles chamam, com a inteligência da dinâmica capitalista que lhes é peculiar, “as consequências econômicas do surto de coronavírus”.

Com as perdas acelerando no decorrer do dia, o Dow Jones Industrial Average, o principal índice da bolsa, perdeu mais de 1.000 pontos, ou 3,9% no dia, apagando grande parte dos ganhos registrados na volatilidade do dia anterior.

À medida que os capitalistas fugiam das ações, continuava a corrida por papéis de ativos ilusoriamente mais seguros. Os rendimentos dos títulos do Tesouro caíram a níveis recordes históricos: à medida que o preço das ações caíam, os capitalistas procuraram a segurança relativa dos títulos do governo, empurrando o rendimento da nota de referência do Tesouro dos EUA de 10 anos para 0,904%, de 0,994% no fechamento de quarta-feira.

Só lembrando, os rendimentos destes títulos da dívida pública caem à medida que seus preços de mercado aumentam com a maior procura.

O ouro, outra pequena e ilusória proteção dos capitalistas frente à falência do capital, continuou subindo. Já o petróleo e outras matérias primas, com a perspectiva de derretimento real da demanda global, continuaram em acentuada queda livre.

Os movimentos desta quinta-feira continuaram o que tem sido uma semana estonteante em Wall Street. Todos os 11 setores do S&P 500 – índice que engloba as ações das 500 maiores empresas dos EUA – caíram no pregão da tarde, enviando o indicador para 3,4% mais baixo. O Nasdaq Composite, com os setores da tecnologia pesada, caiu 3,1%.

De maneira mais inteligente, alguns economistas do mercado começam a analisar a situação além da idiotice das “consequências econômicas do surto de coronavírus”. Começam a considerar como pano de fundo da crise no preço das ações dados econômicos reais (e fundamentais) que sinalizam uma forte tendência de interrupção da produção e dos lucros operacionais das empresas nos EUA.

Assim, dados divulgados nesta super quinta-feira mostraram que os pedidos das fábricas nos EUA caíram em janeiro. Caíram 0,5%, informou o departamento de Comércio, mais do que os economistas consultados pelo The Wall Street Journal esperavam.

O Departamento do Trabalho (BLS) também divulgou dados revisados da produtividade e custos no ano passado. Uma situação de extrema vulnerabilidade cíclica: queda na produtividade, na produção industrial de bens duráveis, nas horas trabalhadas, aumento da massa salarial e, finalmente, forte elevação do custo unitário do trabalho.

Síntese deste relatório do BLS: forte queda dos lucros unitários operacionais (antes dos gastos improdutivos e impostos) das empresas não financeiras da economia EUA. Esta súbita desvalorização é o limite do capital, causa fundamental das suas crises periódicas de superprodução.

Nesta sexta-feira, os economistas também terão em mãos o relatório mensal de empregos para ver se as contratações de força de trabalho nos EUA permaneceram fortes em fevereiro. Neste momento existe uma situação de quase pleno emprego nos EUA. Deve reverter rapidamente.

O número de trabalhadores que solicitam benefícios de desemprego pela primeira vez ainda continuou caindo na semana passada, informou o Departamento do Trabalho na quinta-feira, sugerindo, segundo a douta interpretação dos economistas do mercado, que “a ansiedade sobre a disseminação do coronavírus ainda não afetou as demissões”.

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