por José Martins, da redação.
Há um crescente mal estar no mercado mundial. Ninguém mais entre os capitalistas e economistas em geral procura esconder a preocupação com a aproximação de uma forte desaceleração da economia mundial.
Quando ela deve ocorrer? As opiniões variam muito. A maioria, entretanto, aposta que a brecada deve ocorrer em 2019 ou, no mais tardar, em 2020. A maioria também não dá nenhuma justificativa para essa datação.
E qual será o tamanho da mais anunciada crise em todos os tempos? Aqui, os economistas do mercado convergem incrivelmente na avaliação de que não será mais do que uma nova “recessão”. Nada mais do que o estouro de mais uma “bolha”. Talvez uma “grande recessão”, para os mais preocupados com a situação.
Essa crença no automatismo natural e de eternas sucessões dos ciclos econômicos – e, não menos importante, no caráter divino do Estado regulador e salvador do capital em momentos de crise – está presente na quase totalidade dos economistas e no espírito dos capitalistas de várias plumagens.
Mas impactantes fatos reais já se apresentam para desfazer essas veleidades dos economistas. Uma crise totalmente nova já mostra sua cara (sinais prodrômicos) nas principais praças financeiras do mundo. Por isso cresce o mal estar no mercado mundial. Nos EUA, em particular.
Depois das ações caírem acentuadamente no mês passado, em meio a preocupações crescentes com o aumento das taxas de juros, a desaceleração do crescimento econômico e as tensões comerciais globais, os mercados em Wall Street continuam caindo perigosamente neste mês de Novembro.
O Dow Jones Industrial Average e o S & P 500 caíram acentuadamente na terça-feira (20) e ficaram negativos no ano. Ou seja, na média, quem comprou ações em 1º de Janeiro deste ano já está no prejuízo.
Destaque para a queda das ações da gigante rede varejista Target pressionando as demais ações do setor comercial, enquanto algumas das mais populares ações de tecnologia caíram novamente, como veremos com mais detalhe mais abaixo. A queda de terça-feira vem depois que o Dow já havia caído 395 pontos na segunda-feira.
A Target caiu 10,5% depois de divulgar lucros mais fracos que o esperado no trimestre anterior. A empresa também divulgou vendas de suas lojas mais fracas do que as previstas.
Essa anemia das vendas não é um problema isolado da Target. Trata-se de forte declínio do varejo nos EUA. Acompanhado por uma redução geral das encomendas no atacado na maior economia do mundo. Isso pode ser comprovado pelo relatório mensal do US Census Bureau, publicado nesta quarta-feira (21), sobre as novas encomendas aos fabricantes de bens duráveis nos EUA no mês de Outubro.
Os novos pedidos de bens duráveis apresentaram surpreendente queda de 4.4% no último mês. Houve queda em três dos últimos quatro meses, depois de queda de 0.1% em Setembro. Os embarques também estão em queda. As encomendas para bens de capital das indústrias também caíram fortemente (4,2%) no último mês.
Os fortes sinais de uma demanda anêmica para os bens de consumo duráveis aparecem de maneira alarmante para as mercadorias “computadores e produtos correlatos”. De acordo com o relatório do US Bureau apresentam uma fulminante queda anual (sobre o mesmo mês de 2017) de 8,7%.
É neste subsetor da indústria de bens duráveis que se localizam grandes empresas tecnológicas, como a Aple, com negócios das chamadas ações tecnológicas registrados com o índice Nasdaq, na Bolsa de Nova York.
Veja no gráfico abaixo essa evolução das encomendas de bens duráveis nos últimos ciclos econômicos.
A mesma demanda anêmica para bens duráveis nos EUA aprece com mais intensidade no resto do mercado mundial, principalmente na China e outras economias dominadas da periferia, como Brasil, Argentina, México, Turquia, etc.
Essa perda de dinamismo do mercado mundial tem aparecido de maneira mais clara para as estrelas tecnológicas do sistema capitalista. O declínio de terça-feira (20) na Bolsa de Nova York veio um dia depois que membros do popular “FAANG” – Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google-Alphabet – fecharam em um mercado de forte baixa, abaixo de 20% de suas máximas de 52 semanas.
A Apple tem liderado a queda nas ações do FAANG, devido ao temor dos homens do mercado com a desaceleração das vendas do principal produto da empresa, o iPhone. A corretora Goldman Sachs cortou sua meta de preço das ações na Apple na terça-feira, observando que “além da fraqueza na demanda por produtos da Apple na China … também parece que o balanço de preço e características do iPhone XR pode não ter sido bem recebido.”
A Apple caiu no mercado de urso (vendedor) esta semana, fechando na quarta-feira (21) 24,14% abaixo do pico de 3 de Outubro/2018. Bem mais catastrófico que as já elevadas quedas médias do mercado em geral: 8,62% para o Dow Jones Industrial e 13,96% para o Nasdaq.
Nesta sexta-feira (23) novas quedas das ações tecnológicas que compõem o popular comércio “FAANG”. A Apple, que nesta sexta-feira caiu mais 2,5 %, agora já ultrapassa a queda de 25 % desde que atingiu a maior alta do ano. Utilize o gráfico acima para medir essa queda, de 232.07 pontos em 03/outubro e 172.29 pontos em 23/novembro.
A Aple afunda no mercado urso. O valor-capital da dona do mais popular smartphone do mundo em processo de incontrolável pulverização.
A nova queda ocorre depois que o Wall Street Journal divulgou que “a empresa planeja cortar os preços do iPhone XR no Japão, porque não está vendendo bem”.
É claro que você pode resolver qualquer problema de anemia da demanda reduzindo o preço de mercado da sua mercadoria. Mas diminuição de preço quer dizer diminuição do lucro. E sem lucro não se produz mercadoria. É por isso que a queda fulminante das vendas do popular smartphone não é nenhuma novidade para a Foxconn Tecnology Group, a maior subcontratante e montadora de iPhone no mundo. A gigante de Taiwan tornou-se o mais recente fornecedor da Apple a dar o sinal de alerta para as perigosas consequências da anêmica demanda para seus produtos.
Em memorando interno, divulgado pela Bloomberg News, a Foxconn anunciou a decisão de que os custos industriais do grupo serão cortados em US $ 2,9 bilhões no próximo ano. Isso equivale a quase a metade dos custos totais.
A Foxconn é conhecida principalmente como montadora de iPhones para a Apple Inc. Mas esta última responde apenas por cerca de metade de sua receita. Quase não existe uma marca importante de hardware no mundo que não envolva a Foxconn – Sony, Dell, Xiaomi, HP, Nintendo e Cisco estão todas na sua variada lista de subcontratantes.
A Foxconn faturou US $ 174 bilhões nos 12 meses até 30 de setembro. Obteve um lucro bruto de apenas US $ 10,4 bilhões nesse período. Postou um lucro operacional de US$ 3,5 bilhões e US $ 6,9 bilhões em despesas operacionais.
É uma empresa que opera com margens pequenas de lucro, cerca de 2% sobre o faturamento. Normal. Baixas taxas de lucro individuais é a regra normal em empresas lideres dos ramos mais dinâmicos da economia mundial.
É sinal de maior capacidade produtiva destes ramos líderes na produção mundial, mas, também, que são eles os primeiros a sofrerem a pressão da tendência à queda da taxa geral de lucro da economia e das crises periódicas de superprodução de capital.
É importante destacar que o problema enfrentado com os custos industriais pela Foxconn não é apenas com a montagem dos produtos da Aple. De acordo com o mesmo memorando interno da empresa, cerca de 30% da meta de redução de custos de produção será concentrado na divisão que fabrica iPhones. Isso significa que os outros 70% serão destinados a outras unidades de outras gigantes empresas subcontratantes.
Muitas empresas em todo o mundo escondem seus problemas reais atrás das tensões das guerras comercias entre EUA e China – e da crença que um acordo pode ser feito – para se convencerem de que inevitáveis problemas maiores não estão em andamento.
Mas o tempo está mudando e acelerando a dinâmica cíclica da economia mundial para níveis insuportáveis de superprodução e consequentes problemas de realização do capital, como ocorre com a Aple e sua subcontratada Foxconn.
Essas nuvens de tempestade que já se formam nas empresas da indústria global de tecnologia, como a Aple e as demais gigantes tecnológicas do popular “FAANG” – Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google-Alphabet – antecipam com clareza o que deve acontecer proximamente com as ações e demais ativos financeiros transacionados em Wall Street e outras grandes praças financeiras do mundo.
Antecipam, finalmente, a forma e profundidade que deve assumir a grande crise da produção real e da acumulação mundial do capital que se aproxima.