por Jorge Arnaldo e José Martins, da redação.
Afinal, o que pensam os capitalistas e demais classes proprietárias da atual situação política do maior país ao sul do equador e o que planejam para o seu futuro? Nesta última semana, eles abriram um pouco mais o jogo e deram algumas pistas a respeito. Analisando-as mais de perto, todos os sensatos cidadãos brasileiros poderão agora votar com mais fundamentos nas próximas eleições de outubro
Do exterior, uma didática matéria de capa da revista inglesa The Economist. Do interior, direto da Avenida Paulista, uma bombástica entrevista do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (FHC), principal ideólogo da protoburguesia nacional. Além de outras figurinhas carimbadas do mercado.
Houve inúmeras manifestações sobre o futuro da democracia no Brasil, mas sem grandes diferenças. Primeira constatação: essas avaliações políticas dos capitalistas de fora e de dentro coincidem milimetricamente. Na forma e no conteúdo. Uma verdadeira internacional do capital sem fronteiras. Se o Estado sempre é nacional, o capital é crescentemente internacional.
A The Economist trata Jair Messias Boçalnaro – forte candidato da rica classe média branca e da lumpen-burguesia a presidente da República nas próximas eleições gerais de Outubro – como a mais recente ameaça para a América Latina.
Considera que um eventual governo Boçalnaro seria “desastroso” para o Brasil e toda a região. Acabou a semana sendo chamada pelos fervorosos adeptos da velha ditadura militar de “The Comunist”.
Para a “The Comunist”, alias, The Economist, o pano de fundo dos perigosos descaminhos da política no Brasil é a desastrosa situação econômica e social do país. As condições materiais na frente do processo. É um método correto de se analisar a política. O problema é que o método não resolve tudo. Veja pequenos trechos da matéria:
“A economia é um desastre, as contas públicas estão sob pressão e a política está bastante apodrecida. A violência urbana também tem crescido. Entre as 20 cidades mais violentas do mundo, 7 são brasileiras. As eleições presidenciais do mês que vem dão ao Brasil a chance de um recomeço. Apesar disso, se a vitória for de Jair Bolsonaro, um populista de direita, os brasileiros correm o risco de tornar tudo pior. O senhor Bolsonaro, cujo nome do meio é Messias, promete a salvação; na verdade, ele é uma ameaça para o Brasil e para a América Latina… Caso seja eleito, ele poderá colocar a própria sobrevivência da maior democracia da América Latina em risco… Além de suas visões não liberais no campo do comportamento, Bolsonaro tem uma admiração preocupante por ditaduras. Ele dedicou seu voto pelo impeachment de Dilma Rousseff ao comandante de uma unidade responsável por 500 casos de tortura e 40 assassinatos durante o regime militar, que governou o Brasil entre 1964 e 1985. O vice de Bolsonaro é Hamilton Mourão, um general reformado, que no ano passado sugeriu uma intervenção militar para solucionar os problemas do país. A resposta de Bolsonaro à criminalidade é, com efeito, matar mais criminosos, apesar de, em 2016, a polícia no Brasil ter matado mais de 4 mil pessoas.”
Se fosse nos anos sessenta do século passado, a implantação de uma ditadura militar estrito senso seria certamente a solução imperialista para essas áreas dominadas. O golpe de 1964, e todos os demais na America Latina, na época, foram comandados por Washington. E executados por boçais como Jair e Hamilton.
Os atuais dirigentes do Estado terrorista estadunidense até gostariam que isso fosse possível novamente. Mas as coisas materiais mudaram. E as velhas ditaduras e seus antigos gorilas tornaram-se totalmente insuficientes para as novas tarefas. Muito mais complexas.
É por isso que nestes últimos momentos dos anos 2010 a mensagem do império é muito clara a seus vassalos brasileiros: nada de Médici e Pinochet novamente! Essa inócua solução deve ser descartada por certas frações da protoburguesia brasileira que ainda engordam as projeções de voto no capitão Boçalnaro nas pesquisas eleitorais.
FHC, como demais cucarachas nacionais, entendeu perfeitamente a ordem imperial. E repercute em sua “carta aos eleitores” a mesma cruzada contra o “ódio e a desunião” da burguesia e diversas frações de classes dominantes brasileiras.
Entretanto, além das mistificações das próximas eleições, vai mais fundo nas perspectivas e na forma de uma ditadura atualizada às novas necessidades e desafios de manutenção da propriedade privada e seu corolário, a democracia. Bastam pequenos trechos, a título de ilustração.
“A democracia para mim é um valor pétreo. Mas ela não opera no vazio. Em poucas ocasiões vi condições políticas e sociais tão desafiadoras quanto as atuais. Fui ministro de um governo fruto de outro impeachment, processo sempre traumático. Agora, a fragmentação social e política é maior ainda. Ante a dramaticidade do quadro atual, ou se busca a coesão política, com coragem para falar o que já se sabe e a sensatez para juntar os mais capazes para evitar que o barco naufrague, ou o remendo eleitoral da escolha de um salvador da Pátria ou de um demagogo, mesmo que bem intencionado, nos levará ao aprofundamento da crise econômica, social e política. .. É hora de juntar forças e escolher bem, antes que os acontecimentos nos levem para uma perigosa radicalização. Pensemos no país e não apenas nos partidos, neste ou naquele candidato. Caso contrário, será impossível mudar para melhor a vida do povo. É isto o que está em jogo: o povo e o país. A Nação é o que importa neste momento decisivo.”
Ora, mas esse discurso contra a radicalização e de emergência nacional não caberia perfeitamente na boca dos defensores da “revolução democrática de 1964”? Em busca do tempo perdido. Ou, de preferência, da busca por novas formas ditatoriais de um novo tempo de perigosas rebeliões populares.
Neste sentido muito claro de sanguinárias reformas de um eterno presente, de conservação democrática da velha ordem com nova embalagem, tanto as diretrizes imperiais emanadas da The Economist – e de outras publicações como Financial Times, The Wall Street Journal, Bloomberg News, etc. – quanto esse manifesto da protoburguesia nacional de FHC, têm uma potência de bomba atômica pós-eleitoral. Um perigoso novo capítulo de ajustes fiscais e consequente aumento da já avançada miserabilização dos trabalhadores.
Considerando-se a gravidade da atual situação social não existe, e nem poderia existir, “bons nomes” na atual farsa eleitoral agendada periodicamente pela própria burguesia. Os supostos políticos de “centro” deram de ombros para a carta de FHC. E ela acabou enterrando de vez as chances eleitorais de seu candidato, Geraldo Alkmin, proeminente militante da seção brasileira da Opus Dei.
A Opus Dei é uma organização terrorista internacional, sediada no Vaticano e na Espanha. Com ramificações orgânicas com grupos religiosos de ultra direita dos EUA.
Dedica particular assistência a grupos políticos conservadores, liberais e golpistas na América Latina. É um braço suplementar dos “serviços especiais” da CIA e outros aparelhos imperialistas espalhados pelo mundo.
Veja, por exemplo sua participação na primeira tentativa de golpe contra Hugo Chaves (abril de 2002) e posteriores escaramuças contra Nicolas Maduro, ambos presidentes democraticamente eleitos da Venezuela.
Alkmin é aquela “pessoa sensata” e único candidato destas eleições que veste na forma e na essência o figurino político da nova ditadura da democracia imperial defendida por FHC, The Economist, etc.
Alkmin seria o novo presidente da República talhado para este nova forma do regime democrático no Brasil que, totalmente independente das ilusórias eleições, já se desenvolve efetivamente no dia a dia da vida nacional.
Para o figurino imperialista na América Latina, o incolor, inodoro e insipido Geraldo Alkmin seria, no Brasil, o duplo perfeito, laboratorial, de Maurício Macri, atual presidente da Argentina. Seria. No meio do caminho, entretanto, tem uma pedra.
Acontece que, além da incapacidade pessoal de Alkmin ganhar as próximas eleições, é exatamente nessa sua perfeita duplicidade com Macri que se revelam os verdadeiros problemas políticos a serem enfrentados doravante pela ordem imperial no Brasil.
Alkmin está fora do jogo? Procure-se então um substituto genérico para o Macri brasileiro. Mesmo que seja um Macri de esquerda. Tanto faz. Neste sentido, o jornal de negócios da parasitalha nacional, Valor Econômico, publica interessante matéria com a economista de ultra direita Mônica de Bolle, conceituada analista de riscos do mercado financeiro e nas horas vagas, pesquisadora-sênior do aparelho imperialista Peterson Institute for International Economics.
Para a senhora de Bolle “ a vitória de Bolsonaro é o maior risco. Ciro é uma boa opção. Esta não é uma eleição de absolutos, mas de relativos. E relativamente, Bolsonaro é pior do que Haddad. E Haddad é pior do que Ciro. Para mim, não há risco maior do que Bolsonaro. Mesmo sabendo de tudo que o PT fez e é bom lembrar que não fez nada sozinho. Compreendo esse medo que se tem do PT, mas um governo Bolsonaro seria trágico“.
A internacional do capital prega o voto útil nas próximas eleições. Em Ciro Gomes, “ a melhor opção”, ou, na pior das opções, em Fernando Haddad, um candidato “razoável”. As bolsas subiram e o dólar caiu.
A esquerda democrática poderá realizar o programa imperialista das “reformas”? Longe disso. Não por falta de capacidade técnica nem de falta de vontade. Acontece que a quase certa derrota eleitoral dos candidatos oficiais do imperialismo nas atuais eleições brasileiras é acompanhada por duas outras derrotas muito mais fundamentais para sua governabilidade “reformista” na América do Sul.
A primeira derrota é material. Determinante. A política econômica do imperialismo (tanto de Dilma Rousseff, quanto de Michel Temer) não conseguiu retirar a economia brasileira da estagnação. Nem vai conseguir. A situação só tende a agravar na medida em que a política fiscal de ajuste revela seus efeitos nefastos reais. Qualquer novo governo saído destas eleições será varrido pelo processo.
A economia subordina a política. Com essa flagrante impotência da sua política econômica todos esses ideólogos das mais diferentes instituições, aparelhos de inteligência, grande mídia, etc., estão mais assustados do que nunca. A sua receita de reformas fiscais e ajustes é um fracasso. Não funciona. Nem vai funcionar.
A Argentina está mostrando. A aplicação das mesmas “reformas” salvadoras da pátria por um presidente tão confiável e “sensato” quanto Maurício Macri, totalmente apoiado por Washington (politicamente), pelo FMI (economicamente) e pelos militares internamente, não foi capaz de evitar uma repentina depressão econômica na terceira maior economia da América Latina.
Uma depressão econômica é coisa muito mais grave que uma estagnação. Esse é quadro que se espera também para a primeira economia da América Latina. Como antigamente (lembram do “Efeito Orloff”?) a Argentina está novamente dizendo para o Brasil: eu sou você amanhã!
O povo argentino não sai mais das ruas para exigir ao mesmo tempo o fim deste criminoso ajuste do FMI e também a renúncia do incompetente Macri para resolver os problemas nacionais. Nesta semana haverá uma grande greve nacional. Estaremos acompanhando.
O tempo encurta para as classes dominantes brasileiras. Por enquanto, as atenções são desviadas para as ilusões de claríssima uma farsa eleitoral que, logo que se apagarem, serão substituídas por embates materiais mais decisivos. Macri é o futuro de todos os candidatos em condições de ganhar as eleições brasileiras.
Surge então a segunda derrota para a governabilidade neoliberal na América Latina. Uma grave derrota política. A perda do discurso triunfante de cortes, privatizações, desregulações, etc. Eles ainda tentam salvar esse discurso vazio. Veja como é que, sem receio de se revelar como mais um idiota economista vulgar, FHC repete em sua carta o desgastado mantra dos parasitas:
“É necessária uma clara definição de rumo, a começar pelo compromisso com o ajuste inadiável das contas públicas. São medidas que exigem explicação ao povo e tempo para que seus benefícios sejam sentidos. A primeira dessas medidas é uma lei da Previdência que elimine privilégios e assegure o equilíbrio do sistema em face do envelhecimento da população brasileira. A fixação de idades mínimas para a aposentadoria é inadiável. Ou os homens públicos em geral e os candidatos em particular dizem a verdade e mostram a insensatez das promessas enganadoras ou, ganhe quem ganhar, o pião continuará a girar sem sair do lugar, sobre um terreno que está afundando”.
Alguém ainda realmente sensato (sem aspas) ainda acredita nisto que os capitalistas estão discursando? que a “reforma da Previdência” possa resolver os desiquilíbrios fiscais brasileiros? Mesmo que essa “reforma” queira dizer na realidade o fim real da Previdência Social no Brasil?
Mesmo que que o ideal dos parasitas se realize, quer dizer, que todo o montante de recursos atuais da Previdência seja transferido para o pagamento dos juros e rendimentos da dívida pública? Os eleitores estão mostrando que não acreditam. Por isso os candidatos oficiais do sistema serão derrotados.
Dos candidatos nas eleições brasileiras, o “sensato” coroinha da Opus Dei é um dos poucos que acredita. E que ainda discursa o velho mantra dos proprietários, como seu guru FHC. É por isso, principalmente, que nas pesquisas eleitorais afunda em um empate técnico com Marina da Silva, a missionária de Belo Monte, que também acredita no que diz sua patroa proprietária do Itaú.
Os capitalistas poderão ceder um pouco, em nome da governabilidade? Só na imaginação dos oportunistas e colaboracionistas (conscientes ou não). A única coisa que conta na realidade política atual na América do Sul é que suas diferentes burguesias e demais parasitas não podem mudar esse seu falido programa de “reformas” decretado pelo sistema imperialista. E nem desejam mudar.
Não podem nem desejam mudar porque o problema é unicamente material. Acontece que sem a sua perseguição política, estatal, sem o compromisso pétreo de que as “reformas” sejam efetuadas, é a própria propriedade privada (começando pelos rendimentos dos títulos do “tesouro direto” e terminando com as joias da madame) que começa a se desmanchar.
E por isso que nem FHC, nem a The Economist, nem a senhora de Bolle, ou qualquer outro ideólogo dos parasitas do sistema jamais abandonarão esse ridículo discurso para boi dormir. Terão que continuar com ele de qualquer maneira, até o fim. Além de qualquer ideologia.
A realidade material fala mais alto. As economias do Brasil e da Argentina afundam. Os burgueses, demais classes proprietárias e seus colaboracionistas perderam a batalha da política econômica. Restou-lhes apenas o seu discurso, a sua desacreditada narrativa de solução para os gravíssimos males sociais que eles mesmo criaram. Esse é seu grande problema político. Que só poderá procurar uma saída na forma de uma nova ditadura e de guerra aberta contra os trabalhadores.
A política de terra arrasada é seu único discurso ou programa possível de governo, sua única alternativa política enquanto classe dominante na periferia do sistema. Essa nova forma de repressão democrática e muito mais eficiente que as ingênuas ditaduras militares de antigamente já está em pleno trabalho de experimentação. Os trabalhadores já sentem no dia a dia essa nova forma de legalidade democrática. Essa nova forma política necessária para a reprodução ampliada da carnificina social.
Em outubro, você vai votar, certo? Todo cidadão vota. Aliás, no Brasil o voto é obrigatório! De todo modo, desde agora já podes escolher, com toda a consciência possível, como já fez a senhora Monica de Bolle, o candidato que achares melhor preparado para representar institucionalmente a legalidade desta carnificina do capital acima mencionada.
2 thoughts on “Situação política brasileira”
Comentários estão fechados