Ocorreram modificações importantes com as taxas reais de juros internacionais, quatro meses depois que analisamos o mesmo assunto em nosso boletim “Por que o Brasil das ‘reformas’ não vai sair do buraco? Dê uma olhada no ranking mundial de juros reais”
É muito importante atualizar agora os números utilizados naquela análise sobre o rígido desenvolvimento desigual e combinados do sistema monetário internacional.
Observava-se, então, que a redução da taxa básica de juros do Banco Central do Brasil para 9,5% ao ano não tinha aumentado nem um tostão para o consumo individual e nem para o consumo das empresas (investimento).
E que sem o aquecimento dessas duas estratégicas variáveis anticíclicas não haverá chance de retomada do emprego e da produção. A economia brasileira vai continuar no buraco.
Para concluir, afirmou-se então que para sair do sufoco atual seria necessário agir emergencialmente no aumento dos gastos públicos em investimento (grandes obras de infraestrutura) e redução rápida da taxa real de juros da economia.
Continuamos afirmando a mesma coisa. Agora com mais ênfase. Existem razões monetárias para isso.
Desde agosto até 06 de dezembro último, a taxa nominal de juros do Banco Central do Brasil caiu de 9,5% ao ano para 7,0%.
O governo vende ao distinto público que essa redução da Selic é resultado de um grande desempenho da sua política monetária.
Bobagem. Isso só seria verdade se tivesse ocorrido também uma redução proporcional da taxa real de juros (entendida como taxa nominal descontada a inflação projetada para os próximos doze meses).
A taxa nominal de juros pode ser muito importante para quem especula com títulos do governo, ações, e outros ativos financeiros do mercado de capital fictício – desde as aplicações em cadernetas de poupança e “tesouro direto” até inovações tecnológicas do mercado como os bitcoion e outras criptomoedas menos populares.
Mas as variações da taxa nominal de juros não refresca nem um pouco para a recuperação da demanda e reutilização da capacidade industrial instalada. Para uma política anticíclica séria de estabilização da demanda pelo produto – e não apenas para voos de galinha, como tem ocorrido ultimamente – o que conta é a adequada redução da taxa real de juros.
Em resumo: nos últimos meses, no Brasil, houve redução rápida da taxa nominal de juros mas ocorreu exatamente o contrário com a taxa real.
O que ocorreu efetivamente entre agosto e dezembro deste ano, como veremos com os números mais abaixo, foi uma forte elevação da taxa real de juros da economia brasileira – de 3,71% ao ano para 4,30%,.
O que o senso comum dos homens do mercado não leva em consideração é que a deflação dos rendimentos e preços evoluiu rapidamente no mesmo período. Muito mais que a taxa nominal de juro do BC, medidos pela Selic.
A deflação dos rendimentos reais e dos preços, como já observamos inúmeras vezes, é o principal problema da economia brasileira. Isso passa longe do estreito entendimento dos capitalistas.
Ao contrário, quando o governo festeja a fantasiosa façanha de ter reduzido ao mesmo tempo os juros e a inflação os iludidos idiotas do mercado riem junto.
A elevação real dos juros tem, repita-se, um efeito letárgico imediato sobre a atividade econômica. Principalmente sobre os estratégicos componentes da demanda agregada da economia.
É por isso que tanto o comércio do varejo quanto o atacado das empresas continuam abaixo dos níveis de 2012, conforme dados mais recentes publicados pelo IBGE. Trataremos desses números separadamente, em outro boletim.
O que se passou entre agosto e dezembro deste ano é que a economia do país continuou no buraco e o Brasil piorou ainda mais sua posição relativa no ranking mundial das taxas de juros reais.
Agora ocupa a vice-liderança da lista do “top 10” das piores taxas de juros reais do mundo. Só está pior que a Turquia, que ainda figura em primeiro. Vejamos os números. Para comparação, as taxas entre parênteses são as do mês de agosto de 2017.
- Turquia 5,87% (3,93%).
- BRASIL 4,30% (3,71%)
- Rússia 4,18% (4,59%).
- Argentina 3,00% (0,36%).
- Indonésia 2,26% (3,36%).
- China 2,00% (1,45%).
- México 1,61% (1,43%).
- Índia 1,54% (1,39%).
- África do Sul 1,46% (0,86%).
- Colômbia 0.84% (2,06%)
Para estabelecer a taxa atual de juros reais do Brasil, a Crítica da Economia projeta para os próximos doze meses uma taxa de inflação (IPCA) de 2,70%. Bem diferente da projeção dos 4,00% projetados pelo mercado (último boletim Focus do Banco Central).
Fazem parte desta indesejável lista acima, as quatro maiores economias industrializadas da América Latina – Brasil, Argentina, México e Colômbia.
Como as demais economias deste top 10 dos desvalidos (incluindo a China), são todas elas desafortunadas economias dominadas sem moeda forte (conversível), párias no mercado monetário e cambial mundial.
Precisam manter permanentemente elevadas taxas de juros reais para atrair investidores e moedas conversíveis das economias dominantes. Só assim conseguem continuar circulando suas mercadorias pelo mercado mundial.
Outra coisa importante: a maioria destas economias – dentre as quais se destaca a China, o “chão de fábrica do mundo” – aumentaram bastante as taxas reais de juros, em curtíssimo espaço de tempo, quando se compara com agosto de 2017.
As economias dominantes (EUA, Alemanha, Japão, etc.) ao contrário, mantiveram praticamente as mesmas taxas de juros reais. Todas negativas ou, como a Alemanha e demais participantes da eurozona, com a taxa zero.
A forte elevação da taxa real de juros dessas grandes economias dominadas quer dizer que elas encontram dificuldades macroeconômicas crescentes e são as economias mais vulneráveis a um próximo choque no sistema monetário internacional.
Esse choque poderá ser detonado no próximo ano com uma súbita elevação da taxa básica de juros do planeta, administrada pelo Federal Reserve Bank, Fed, banco central dos EUA, que também detém o monopólio da emissão da moeda universal (US dólar).
Uma simples elevação de 2 pontos percentuais da taxa de juros do Fed pode disparar o gatilho. Por isso essa taxa é tão popular e tão noticiada nos noticiários da grande mídia, etc.
A explosão do sistema monetário mundial depende do que decidir o novo nomeado de Trump para dirigir o Fed, a partir de fevereiro de 2018, em lugar de Mrs. Janeth Yellen.
Uma observação para concluir este boletim. Esses mesmos perdedores globais compõem também o topo da tabela das dez maiores taxas nominais de juros, conforme abaixo:
- Argentina 28,75%.
- Rússia 8,25%.
- Turquia 8,00%.
- BRASIL 7,00%.
- México 7,00%.
- África do Sul 6,75%.
- Índia 6,00%.
- Colômbia 4,75%.
- China 4,35%.
- Indonésia 4,25%.
2 thoughts on “O Fracasso da Política Monetária de Michel Temer”