Por Fernando Grossman e José Martins, da redação
20/Janeiro/2020. Fórum Econômico Mundial, Davos, Suíça – discursando para uma plateia de capitalistas de várias partes do mundo (os famigerados “investidores internacionais”), o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a dizer que “o país já voltou à rota da expansão, devendo registrar altas de 1,2% do PIB no ano passado e 2,5% neste ano”. E completou triunfante: “todos acreditam que o Brasil vai na contramão do mundo. O mundo desacelera e o Brasil está acelerando o crescimento”.
04/fevereiro/2020. Brasil – o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga que a produção industrial brasileira fechou 2019 em queda de 1,1%. interrompendo, dessa forma, dois anos consecutivos de pequeno crescimento e desaceleração: 2017 (2,5%) e 2018 (1,0%).
Os economistas e comentaristas do sistema tentam explicar essa incontornável divergência entre as fantasias do ministro da Economia e os fatos da dura realidade material revelados pelo IBGE.
A maioria destes economistas – como aqueles que fazem parte da tropa de choque da propaganda midiática dos ajustes fiscais e intermináveis reformas de ataques à classe operária – mostram muito desconforto com estes dados mais recentes da produção nacional. Como se tivessem recebido uma ducha de água fria.
“O dado da produção industrial não surpreendeu, mas foi o mesmo que uma ducha de água fria para quem espera para 2020 uma retomada mais forte da economia brasileira” escreve o economista Armando Castelar.
Este economista é um daqueles que viviam e vivem dizendo que tudo é muito simples. É só travar os investimentos e gastos sociais do governo, privatizar as melhores estatais, fazer as “reformas necessárias” e ferrar à vontade os trabalhadores para a economia retomar um virtuosíssimo ciclo de “desenvolvimento sustentável”.
Mas quando ele é chamado para explicar porque os investimentos e a produção nacional não respondem às suas milagrosas “reformas necessárias” e outras inúmeras perversidades sociais, ele mostra total impotência teórica e mental: “Por fim, a produção de manufaturados segue retraída, pois a indústria tem perdido competitividade, ela mesma investindo pouco e sem avançar tecnologicamente ao ritmo das principais economias. Isso se vê em números muito ruins de produtividade. Aqui o problema é mais profundo e ainda não é claro como fazer para a indústria de transformação recuperar seu dinamismo”.
Estes economistas da era bolsonariana e das reformas imperialistas no território nacional não tem a mínima ideia do papel estratégico de um forte e necessário desenvolvimento industrial para a solução dos problemas do crescimento (para não falar do desenvolvimento) econômico nacional.
Para eles a produção industrial é apenas uma variável estatística que agora se apresenta aleatoriamente como produto industrial, mais uma variável dentro do cálculo do Produto Interno Bruto (PIB). Nada mais do que isto.
As burguesias e economistas da periferia do sistema relaxam teoricamente na onda da globalização. Não têm nenhum projeto real de desenvolvimento econômico para o Brasil. Só liquidacionismo e destruição pura e simples.
A consequência prática é que o atual processo de destruição puro e simples da antiga indústria produtora brasileira é enfiado pela goela da opinião pública nacional como uma coisa tão natural e sem importância quanto as razões econômicas do aborto da substituta indústria montadora das cadeias globais que eles imaginavam implantar no Brasil.
Mas existem outros economistas com um mínimo de sanidade mental – como aqueles do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). Uma minoria que ainda mantém certa lucidez teórica e prática na defesa do que ainda resta daquela agonizante indústria desenvolvimentista do passado.
Estes últimos moicanos da antiga “burguesia industrial progressista” lamentam e choram a triste separação das suas camadas burguesas do Departamento I da economia – aquele produtor de bens de capital ou meios de produção como máquinas, equipamentos, etc. – com os inconfessáveis desígnios da nova maioria burguesa bolsonariana da FIESP, CNI, etc.
Lamentam com legítima consciência de classe em vias de extinção por mais um ano de declínio da produção nacional.
No horizonte mais amplo de tempo, dentro do atual período global de expansão cíclica, a indústria brasileira está rigorosamente estagnada, não sai do lugar desde 2013, aproximadamente.
Lembrando inúmeras observações anteriores da Crítica da Economia, esta recente estagnação industrial é um fenômeno que ocorre nas principais economias dominadas do mercado mundial – China, Brasil, Rússia, Índia, México, Turquia, Argentina, etc. O gráfico abaixo ilustra o caso brasileiro.
Observa-se que a evolução de longo prazo da indústria geral (linha azul do gráfico) coincide rigorosamente com a evolução da indústria de transformação (linha verde do gráfico). Isto acontece porque a atividade desta última – na qual se localizam as estratégicas empresas produtoras de bens duráveis e não duráveis – executa a função reguladora da totalidade do sistema econômico nacional.
A evolução da economia nacional subordina-se rigidamente à dinâmica da indústria de transformação. Essa importância estratégica da indústria, ignorada pelos atuais arautos da destruição, não passa despercebida por amplos setores das classes dominantes.
É o caso do conservador jornal O Estado de São Paulo. No editorial desta quarta-feira (5) decreta solenemente que o desafio é reindustrializar. Adverte aqueles liquidacionistas acima destacados que “se quiser mesmo consertar a economia brasileira e reencontrar o caminho do firme crescimento, o governo terá de promover a reindustrialização do País.”.
E completa: “De vez em quando algum membro do governo fala de produtividade e competitividade, mas sem apresentar mais que vagas intenções e ideias. A expressão política industrial é evitada como blasfêmia. O discurso é geralmente um recitativo com tinturas de liberalismo econômico e nenhuma referência clara a planos, metas e instrumentos. Diante disso, até as modestas projeções conhecidas de crescimento industrial chegam a parecer otimistas.”.
Essa critica burguesa conservadora do Estadão à cantilena liberal do governo e da atual direção da FIESP morrendo de amores por Boçalnaro e seu liquidacionismo econômico é um movimento para se observar na lupa.
O processo de afundamento da economia é o suprimento material para a inevitável tendência de cisão burguesa no coração da produção industrial nacional. Esta tendência deve ser considerada como variável de peso nos cenários da guerra civil que se avizinha.
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