por José Martins, da redação.
O dólar começou a quinta-feira (13) batendo novas máximas e chegando a R$ 4,38, após quatro recordes consecutivos em relação ao real. O Banco Central entrou pesadamente no mercado para segurar a disparada.
Menos de um ano atrás, essa desastrosa desvalorização do real era impensável para os empresários brasileiros e seus economistas. Ao contrário, eles até ameaçavam a sociedade de forma terrorista com uma forte desvalorização do real se não fosse aprovada a sua reforma da Previdência.
Era o que eles comunicavam na edição de 01/03/2019 do jornal Valor Econômico: “XP Investimentos: dólar pode chegar a R$ 4,20 se a reforma da Previdência não passar”. E complementava: “Por outro lado, com uma aprovação integral do projeto apresentado pelo governo Jair Bolsonaro, o dólar iria a R$ 3,40 …”
A reforma passou como eles queriam, mas, ao invés da taxa prometida de R$ 3,40, agora eles presenteiam a sociedade exatamente com a taxa de R$ 4,20 que utilizaram para chantagear o Congresso e a opinião pública para a aprovação da reforma.
O discurso dos empresários e dos seus economistas sempre muda para justificar sua notória incompetência. Na maior cara de pau. O que seria desastroso um ano atrás agora passa a ser grande virtude da atual política econômica.
O novo bonito passa a ser exatamente uma moeda nacional enfraquecida, a liquidação pura e simples da capacidade produtiva instalada e dos parcos rendimentos da população trabalhadora.
Para realizar essa contorção mental, instala-se nos imundos salões do governo um inacreditável turbilhão de falsidades econômicas e de agressões racistas reais.
Em evento nesta quarta-feira (12), em Brasília, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o dólar mais baixo de tempos atrás é que era um grande problema. Tão grande que permitia até empregadas domésticas viajarem à Disneylândia, nos Estados Unidos.
“Preferimos manter câmbio a R$ 4 com juros baixos, do que a R$ 1,80 com os juros lá em cima. Vou exportar menos, substituição de importações, turismo, todo mundo indo para a Disneylândia. Empregada doméstica indo pra Disneylândia, uma festa danada” – declarou a mais alta autoridade econômica dos empresários brasileiros.
Considerações morais a parte, porque isso não tem a menor importância na dura realidade da luta de classes, duas rápidas observações. A primeira, que o ministro da Economia não está conseguindo manter o câmbio a R$ 4 que, no citado discurso, ele disse “preferir manter”. Já alcançou R$ 4,38 nesta manhã de quinta-feira. E quem garante que não continuará subindo?
Em segundo lugar, o governo e os demais economistas do sistema não têm a mínima noção da natureza do processo deflacionário dos preços que atinge o mercado mundial e, por tabela, a economia brasileira.
A teoria econômica vulgar (neoclássica, monetarista ou keynesiana) não é capaz de determinar nem a origem, nem as causas da variação dos preços. Esse é um problema teórico insuperável pelos capitalistas. Daí a sua incapacidade de evitar as crises periódicas. As superações destas últimas são decididas pela violência policial do Estado.
É por isso que só os mais grosseiros destes economistas, como o atual ministro da Economia, ainda ensaiam, mesmo que timidamente, comemorar e reivindicar a paternidade da desinflação e da queda da taxa básica de juros (Selic) da economia.
Fazem o papel de palhaços (de péssima qualidade artística) em suas aparições públicas, porque estão comemorando coisas que deveriam ser lamentadas – muito lamentadas para seus próprios interesses de proprietários privados dos meios sociais de produção – como a queda dos preços, da taxa de juros e, finalmente, da desvalorização da moeda nacional frente ao dólar (câmbio).
Como se pode comemorar uma renitente deflação da taxa geral de lucro embutida nos preços de produção e uma taxa básica de juro real já próxima de zero – que não colaboram em nada para a recuperação dos investimentos e do crescimento da economia?
Como comemorar esses “bons fundamentos econômicos” de queda dos preços e das taxas de juro se a economia real continua estagnada, com crescente tendência ao afundamento?
É por isso que os economistas brasileiros são totalmente incapazes para dizer alguma coisa sensata sobre a futura evolução dos preços ao consumidor (inflação) e da taxa de juros do Banco Central (Selic).
Da mesma maneira que as desorientadas e atônitas autoridades do Banco Central frente à situação econômica atual, os economistas e comentaristas estão completamente perdidos sobre as próximas decisões de política monetária a serem tomadas quanto à taxa de juros.
A Selic pode subir, cair ou ficar parada, é o diagnostico que se pode ler na edição desta quarta-feira (12) do jornal Valor Econômico.
É nisto que se resume toda a sapiência da economia vulgar dos capitalistas, seus inúteis economistas e comentaristas quando são obrigados a diagnosticar a real situação da capacidade produtiva instalada da economia (e principalmente seu grau atual de ociosidade):
“ A ata do Copom mostra que os membros do colegiado estão divididos sobre qual é a real capacidade ociosa da economia. A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central esclareceu as dúvidas sobre o que significa, afinal, uma “interrupção” no ciclo de baixa de juros: é uma pausa ao longo dos próximos meses para avaliar a evolução da economia e decidir os futuros passos na condução de política monetária. O rumo da taxa de juros depois dessa “interrupção”, porém, parece mais incerto do que há uma semana… Em tese, há espaço para cortar os juros, para mantê-los e até mesmo para subi-los mais cedo”.
Pode apostar que eles serão obrigados a continuar reduzindo a Selic. Mas estas novas reduções nominais das taxa de juros não terão nenhum efeito expansivo dos investimentos na indústria e, consequentemente, na totalidade da economia. Apenas alterações na dinâmica e redirecionamentos do capital fictício da economia, como já ocorrem.
O mais importante de tudo é que os donos do capital estão dirigindo a economia no escuro. Eles não têm nenhuma capacidade teórica e muito menos prática para reverter a prostração produtiva do capital, o desemprego operário e o desespero das massas esfomeadas. O desastre é inevitável. Para acontecer na próxima curvatura do ciclo.