Jorge Maia e José Martins, da redação.
Apenas algumas semanas atrás, o presidente chileno Sebastian Piñera descrevia o seu país como “um verdadeiro oásis” em meio à turbulência latino-americana.
Entretanto, no último domingo (20), ele tinha mudado repentinamente de opinião. No meio de uma das maiores rebeliões populares desde que o Chile decretou o fim de sua ditadura militar dos anos 1970 – ele declarava solenemente em rede nacional de televisão:
“Estamos em guerra contra um inimigo poderoso e implacável que não respeita nada ou ninguém e que está disposto a usar a violência sem limites, mesmo quando isso significa a perda de vidas humanas, com o único objetivo de causar o máximo de dano possível”.
Mesmo antes desta última declaração, seu governo já havia iniciado ele mesmo uma “violência sem limites” contra cidadãos desarmados. Uma verdadeira matança dos capitalistas sobre os trabalhadores. Tanto quanto em sua antiga ditadura militar. Ou mais. Até terça feira (22) seus carabineiros já haviam matado dezoito pessoas (cifras oficiais), centenas de feridos, milhares de prisões.
Para justificar essas ações militares, vídeos na internet mostram seus carabineiros armando eles mesmos barricadas, incendiando supermercados, estação de metro, assaltando banco, como se tudo fossem ações da população revoltosa.
Os próprios funcionários do Estado protagonizando ações terroristas espetaculares como se fossem de “saqueadores mascarados” – exatamente aqueles cidadãos (dentre os quais muitas crianças) que eles prendem, ferem ou assassinam.
Pura montagem para justificar a verdadeira violência sem limites (sem aspas) de que falava o grande capitalista e especulador do mercado financeiro presidente da República do Chile.
Este grande capitalista que agora procura salvar de qualquer maneira a imagem daquele seu fantasioso oásis que se desmancha e se metamorfoseia em verdadeiro caos nas ruas e avenidas do país entupidas por milhões de cidadãos empobrecidos pedindo sua destituição.
Terça-feira (22) à noite, Piñera pede desculpas ao país “pela falta de visão” dele e dos demais capitalistas sobre a realidade chilena e anuncia um ilusório pacote de “bondades” para acalmar a população revoltosa.
Entre as promessas, o aumento imediato de 20% da Previdência Solidária e outras melhorias que diminuiriam os efeitos catastróficos do sistema previdenciário de capitalização privada que ameaça de morte a maior parte dos idosos pobres do país.
Este sistema previdenciário chileno de capitalização privada, implantado na época da ditadura militar de Pinochet, é exatamente o modelo que os capitalistas brasileiros e seu governo atual tentaram (sem sucesso completo) implantar no país, nos últimos meses.
O repentino “pai dos pobres” chileno anunciou também o estabelecimento de uma “renda mínima garantida” para todos os trabalhadores em tempo integral de 350.000 pesos por mês (cerca de US $ 480 ) e a criação de uma nova parcela no Imposto Global Complementar para aqueles que recebem salários acima de 8 milhões de pesos por mês ( aproximadamente US $ 11.000).
Piñera prometeu também a criação de fundos públicos que cobririam parte dos gastos com medicamentos, bem como com o congelamento das tarifas de eletricidade, o que permitiria o cancelamento do recente aumento de 9,2% na eletricidade.
A lista de promessas do digníssimo representante dos capitalistas chilenos é muito longa. Nenhuma deve ser cumprida. Evidentemente, os trabalhadores produtivos no Chile sabem disso. Por isso a sua resposta foi clara. A única possível.
Mais de cem organizações agrupadas na Unidade Social decretaram greve geral e convocaram manifestações em massa para quarta (23) e quinta-feira (24), exigindo soluções e respostas revolta social que os capitalistas estão enfrentando.
A Greve Geral se desdobrou a partir de Santiago, com uma marcha que partiu da Plaza Italia na quarta-feira (23) às 10:30 horas, replicada para todas as regiões do país, cujo início seria definido localmente. Por sua vez, nesta quinta-feira (24), a atividade se concentra em manifestações e assembleias populares territoriais em todo o país.
Pelas próprias palavras contidas na convocatória dos operários reunidos em torno da Unidade Social, a mobilização da classe operária do Chile exige:
1.- A revogação do Estado de Emergência e o retorno dos militares a seus quarteis;
2.- A exigência aos parlamentares de desenvolver uma Greve Legislativa, na qual não se tramite nenhum projeto de lei ou ratificação de tratados internacionais seja processado enquanto permanecer o Estado de Emergência;
3.- A retirada dos projetos de lei que violam os direitos sociais, econômicos e culturais do povo chileno: pensões, reforma tributária, Lei SENCE, TPP-11;
4.- A definição e implementação de um pacote de medidas econômicas de urgência no campo dos direitos sociais para o povo trabalhador do Chile em torno dos temas contidos na declaração de fundação da Unidade Social.
5.- Avançar para uma Assembleia Nacional Constituinte que elabore participativamente um novo marco estrutural da sociedade chilena que abra caminho a um novo modelo de desenvolvimento nacional que ponha fim ao atual modelo neoliberal injusto e abusivo.
6.- A rejeição às graves declarações do Presidente Piñera, que indicou que “ele está em guerra” contra o povo do Chile. Quem continua arrastando o país para uma grave confrontação não merece ser o presidente do Chile, por isso exige-se a renúncia de Sebastián Piñera.
Reproduzimos abaixo a convocatória oficial da Unidade Social, onde se detalha mais a análise da atual situação política chilena.
HUELGA GENERAL A PARTIR DEL MIÉRCOLES 23 DE OCTUBRE
Chile enfrenta la mayor crisis política y social desde la salida de la dictadura militar. El estallido social detonado por las alzas de la locomoción colectiva a puesto en evidencia la rabia contenida y el descontento por las políticas impulsadas en las últimas décadas, alzas permanentes de los servicios básicos, los estancados salarios y la mercantilización de los derechos sociales entre otras.
Frente a esto, el Gobierno esta llevando a cabo un verdadero “auto Golpe”, recurriendo a la mayor de las practicas antidemocráticas que es usar a las FF.AA. para imponer “paz social” por la vía de la fuerza y en ese contexto imponer sus políticas antipopulares en pensiones, tributaria, jornada de trabajo, etc. El gobierno con su actuar, tiene paralizado al país con el clima de violencia instalado con la presencia de los militares en las calles.
Sebastián Piñera no está entendiendo las razones de fondo de la protesta ciudadana generalizada en todo el territorio, con su actitud es claro que no está en condiciones de seguir dirigiendo al país.
Por tanto, en primer lugar, en los marcos de la ley y en relación a cada caso, ningún trabajador debe poner en riesgo su integridad, ni asistir a sus puestos de trabajo si no están las condiciones para ello.
Las organizaciones sindicales presentes, en una reunión de Unidad Sindical de urgencia, demandamos al gobierno restituir la institucionalidad democrática, que en primer lugar significa deponer el estado de emergencia y devolver los militares a sus cuarteles.
Solo depuesto el Estado de Emergencia, habrá condiciones que permitan iniciar de manera real, un diálogo social y político, con organizaciones representativas de los trabajadores y movimientos sociales, que le de respuesta a las demandas que son las que han generado este estado de indignación social.
Las organizaciones presentes, manifestamos nuestra decisión de convocar a una gran Huelga General que vacié las calles del país. De no mediar respuestas del gobierno y una salida pronta al actual estado de crisis de la institucionalidad democrática, se hará efectiva a partir del próximo miércoles 23 de octubre.
Hacemos un llamado categórico a la oposición y progresismo a que de una vez recojan y legislen considerando las demandas populares y actúen por el bien del país con criterios de unidad en torno a las exigencias y gravedad del momento. En lo inmediato, les exigimos paralizar toda acción legislativa mientras se mantenga el estado de excepción, asumiendo una huelga parlamentaria.
Estamos ciertos que los primeros responsables de la violencia es esta elite arrogante e insensible que durante décadas ha abusado de manera impune y ha mercantilizado hasta los derechos más elementales; ellos no son ejemplo de nada, son los que han llevado a este país al grave estallido que vivimos hoy.
Pero con la misma claridad condenamos de la manera más enérgica la violencia irracional generada por la actitud del gobierno, que ha permitido acciones de vandalismo y delincuencia de grupos minoritarios, mientras la gran mayoría del país se ha manifestado de manera pacífica y organizada por todo el territorio. Es absurdo destruir el metro que no es usado por los poderosos sino por trabajadores y trabajadoras, es repudiable el saqueo de negocios, algunos de ellos de pequeños comerciantes, así como la destrucción de bienes públicos. Esa violencia irracional solo es funcional a los poderosos para justificar la represión y militarización del país. Pero también dejamos planteada la pregunta acerca de la sospechosa ausencia de vigilancia y protección policial a la red de metro, negocios y edificios, justo en los momentos en que operaban estos grupos de desconocida y dudosa pertenencia.
Finalmente, las organizaciones sindicales reunidas el día de hoy, reiteramos y hacemos nuestra la declaración y petitorio de Unidad Social, que contiene las demandas de la ciudadanía toda, del día 19 de Octubre, bajo el lema: Nos cansamos, nos unimos.
Central Unitaria de Trabajadores – Coordinadora No Más AFP – Asociación Nacional Empleados Fiscales ANEF – CONFUSAM – FENPRUSS – Confederación Coordinadora de Sindicatos del Comercio y Servicios Financieros – FEDASAP – Confederación Bancaria- CONFEDEPRUS – Sindicato Interempresa Líder SIL – Colegio de Profesores – FENATS Nacional.
Adhieren: CONES – CONFECH – Chile Mejor Sin TLC – Cumbre de los Pueblos – FECH – FENAPO – FEUARCIS.