terça-feira, maio 7, 2024
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A revolucionária trajetória da maior produção industrial nacional do planeta

Qual é o mapa da produção industrial dos EUA nos últimos setenta anos? Os homens do mercado imaginam aleatoriamente diversas paisagens. É o que se faz também nas academias e outros locais igualmente insalubres. Duas grandes correntes. De um lado, os economistas liberais com a imagem de um contínuo crescimento. Nada de crise. Apenas desequilíbrios de crédito. De outro lado, os keynesianos e neomarxistas com a ideia de queda contínua. Insuficiência de demanda. Só o Estado salva.

Quando se trata das imagens da segunda corrente (queda contínua) a lista de respostas à nossa pergunta é enorme. Crise permanente. Crise financeira. Longa depressão. Crise estrutural. Ciclos longos, ciclos curtos, ciclos médios, etc. Qual delas é a correta? Pode ser também que a resposta certa seja “nenhuma das alternativas anteriores”.

É recomendável, portanto, procurar alternativas além dessas especulações de liberais e burocratas de Estado. O melhor é fazer sua própria investigação. Como fazê-la? Da única maneira possível: observar criteriosamente os dados reais da dinâmica e ondulações da produção desta indústria reguladora do mercado mundial. Esses dados só podem ser encontrados em um lugar. No Federal Reserve Bank (Fed, banco central dos EUA). O Fed fornece dados de longo prazo (1945 a 2017) desta produção, sintetizados didaticamente no gráfico abaixo.

Primeira constatação óbvia. Não se verifica na radiografia acima nenhuma das paisagens imaginadas pelos liberais e burocratas de Estado. Nem ausência de crise, nem crise permanente, nem crise estrutural e muito menos longa depressão. O que se observa é simplesmente a crise periódica em permanência, Exatamente como descrito por Marx e Engels.

No gráfico, as colunas sombreadas indicam os períodos em que todo o sistema econômico mundial sofreu fortes choques parciais e. portanto, a possibilidade de uma nova crise geral ou depressão econômica global. Mais do que simples desequilíbrios.

Já foram tratadas em inúmeros boletins anteriores da Crítica da Economia as razões pelas quais nestes últimos setenta anos as crises parciais, geralmente circunscritas na periferia do sistema, não atingiram decisivamente o coração do sistema, a economia dos EUA. Só com esta última condição as crises parciais ocorridas poderiam desembocar em crises gerais, catastróficas, em uma verdadeira depressão global.

Foram esses sucessivos abortamentos das crises gerais que resultaram uma inédita produção e superprodução do capital em todo o globo. Vejamos mais de perto essa incrível trajetória.

No 4º trimestre de 2017, a produção industrial anual dos EUA (valor agregado de aproximadamente quatro trilhões de dólares) é mais de oito vezes maior que em 1945. Nunca se acumulou tanto capital em toda a história do regime capitalista.

Como se observa nos números acima, esse processo de acumulação ampliada ocorre de maneira mais acelerada nas décadas posteriores aos anos 1970. O crescimento da indústria de ponta do sistema global nas décadas mais recentes, que correspondem à chamada “globalização”, foi muito acima do ocorrido no período inicial de 1945-1970.

Mas é exatamente esse período 1945-1970 que a quase totalidade dos economistas e historiadores marxistas chamam de “idade de ouro”. Teria ocorrido um crescimento contínuo e sustentado neste período, iniciando-se em seguida uma era de longa decadência e estagnação. Até o “período de ouro” o regime capitalista funcionou. Depois disso parou de funcionar. Supõe-se, então, que produção teria sido abafada e substituída pela “financeirização”, “longa depressão” e outras alucinações acadêmicas.

Não é preciso muita perspicácia para observar a idiotice dessas imagens dos burocratas de Estado. A história real mostra exatamente o oposto. Pelos números que formam a tabela acima o “período de ouro” demorou quinze anos para triplicar a produção industrial dos EUA. Mas, como observado acima, ao contrário das especulações estagnacionistas, acelerou nas décadas seguintes. Ainda nos anos 1970, no 2º Trimestre 1978, pico do ciclo 1975-1980, a produção já era 4,3 vezes maior que em 1945!

No pico do ciclo seguinte (2º Tr. 1989) já tinha alcançado um volume de valor e de mais-valia 4,7 vezes maior. No ponto mais elevado do ciclo seguinte (1º Tr. 2000) era 7.8 vezes maior. No pico do ciclo seguinte (4º Tr. 2005) era 8,3 vezes maior. Finalmente, como indicado acima, no 4º Tr. 2017 era pouco abaixo (8,1 vezes) do que no pico anterior do 4º Tr. 2005. Pelos dados mais recentes a produção continua crescendo e possivelmente aquele recorde de 2005 será superado neste 1º Tr. 2018. Estamos torcendo para que isso aconteça. Ferve o caldeirão!

Resumo da ópera. O mapa da produção industrial nos EUA nos últimos setenta anos, mostra, em primeiro lugar, que a dinâmica da economia capitalista se realiza na forma de ciclos periódicos de expansão e crise da produção. Nada de crise permanente, mas periódica em permanência.

O mais importante de tudo isso, entretanto, é que essa investigação da periodicidade regular da expansão do capital revela também que essa acumulação de capital ocorre não como uma mera e monótona sucessão de imprecisos ciclos de produção, mas como precisos ciclos periódicos de superprodução.

É essa diferença das circunstâncias particulares de cada período de expansão que permite a análise das transformações técnicas no aparelho produtivo, a elevação da produtividade sistêmica, o acirramento da concorrência internacional e o potencial da próxima crise.

O limite do capital não é nada externo a ele, mas ele mesmo. Como pode ser observado no gráfico acima, o peso da superprodução aumenta simultaneamente a profundidade da crise e a dificuldade de recuperação. Os períodos de crise são cada vez mais profundos e exige um aumento da exploração da força de trabalho internacional cada vez mais difícil de ser administrado politicamente. A base da crise da democracia (ingovernabilidade) é a dificuldade crescente de o capital superar as crises periódicas que ele mesmo provoca.

Veja como esse aprofundamento dos choques periódicos ocorre com maior clareza nas crises parciais mais recentes de 2000/2002 e 2008/2009. É essa realidade explicita dos limites endógenos do capital que permite antecipar com certo grau de precisão não só a eclosão da próxima crise global, mas também a possibilidade maior ou menor de que a próxima crise parcial possa desembocar em uma crise catastrófica no interior dos EUA.

Permite avaliar, portanto, a possibilidade real de uma depressão global – pré-condição necessária para a eclosão de guerras civis nas grandes potências, para a guerra mundial e, consequentemente, a possibilidade de revolução internacional.

Uma verdadeira revolução só pode ocorrer na esteira de uma depressão econômica geral, e uma é tão certa quanto a outra. (Marx).

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