Dados muito mexidos neste final de mais um ciclo global. Conjuntura confusa. Temperatura em elevação. Ar pesado de tempestade se aproximando. Preparem capas, guarda-chuvas e galochas. E pelo menos uma canoinha para quem mora nas regiões mais baixas da periferia.
Vejamos pelas frestas do mais recente relatório da OCDE dos indicadores compostos avançados (sigla CLI no relatório em inglês). Os leitores da Crítica já sabem o que procura este seu velho conhecido de outros ciclos: antecipar, ousadamente, a atividade das principais economias mundiais nos próximos seis meses.
Começando pelo título do último relatório, publicado nesta segunda-feira, 10/Julho/2017: “os indicadores compostos avançados continuam assinalando um ritmo de expansão estável na zona da OCDE”. Muito ambíguo. Tomando os próprios números do relatório, esse diagnóstico otimista (para o capital, claro) só poderia ser aplicado à zona do Euro. Mesmo assim, parcialmente.
Neste caso, observa-se o que podemos chamar de recuperação tardia na zona do Euro. Mas isso é mais evidente apenas para a Alemanha e, principalmente, para a França. Nas duas maiores economias do euro observa-se de fato uma inflexão positiva do crescimento.
Isso pode dar uma sensação de volta ao crescimento e estabilidade para todo o bloco. Não se fala muito mais em crise na Grécia, Portugal, Espanha, Irlanda, Itália… Isso é correto, pois Alemanha e França são efetivamente as economias reguladoras do bloco. Principalmente a primeira.
O problema é que essa regulação germânica aparece da maneira mais imperfeita possível para outras grandes economias do bloco. Mantém todas na UTI. Respirando por aparelho. Aguardando o sinal do próximo choque global para serem removidas para o necrotério do hospital.
Começando pela Itália, que apresenta tendência de sinais de possível inflexão negativa de crescimento. Pomposo eufemismo para, em nosso ponto de vista, uma real e acelerada inflexão. Os números da página 3 do relatório comprovam nossa avaliação.
Quer dizer, nova frente fria para a Itália nos próximos meses. O seu sistema bancário não passa de um monte de esqueletos aguardando sepultamento. A velha bota só aguarda o próximo choque global para glorioso funeral.
O mesmo ocorre com a decadente Inglaterra, imperialissimamente grafada no relatório como “Reino Unido”. Pior ainda é quando é chamada pela imprensa e pelos velhos parasitas da “City” de “Kingdom of Great Britain”. No relatório aparece com a mesma menção da Itália: sinais de possível inflexão negativa de crescimento.
Talvez a situação inglesa esteja em estágio de deterioração mais avançado que a economia italiana. Questão de minúcias: no relatório ela aparece abaixo da linha de tendência do ciclo, enquanto a italiana só deve aparecer nessa zona morta no próximo relatório.
A única coisa que pode amenizar a bordoada que se prenuncia para a Inglaterra é o Brexit. Sair da falida União Europeia foi uma decisão inteligente. Ninguém tem uma tradição de sobrevivência frente aos grandes cataclismos históricos como os ingleses.
Mas se se utiliza para a zona do euro o critério de economia reguladora, o mesmo se pode fazer para a totalidade do globo. E, neste caso, as perspectivas apontadas no relatório são altamente alvissareiras. Não para o capital, mas para a Crítica.
Tanto a Zona OCDE, que lista as principais economias do mundo – incluindo rebotalhos como Índia, México, Brasil, etc. – quanto o chamado Grupo dos 7 (G7), que engloba as sete maiores economias do mundo – EUA, Alemanha, França, Inglaterra, Itália, Japão e Canadá – já aparecem no relatório com variações mensais negativas.
Lembrando, de passagem, que o Japão ainda é diagnosticado no relatório com a menção de dinâmica de crescimento estável, o que coincide com a avaliação da Crítica, a pergunta que se coloca é a seguinte: quem então está puxando a Zona da OCDE e o G7 para a tendência de inflexão do crescimento? Para a zona morta abaixo da linha de tendência?
Acertou na mosca quem apostou no destrambelhado Estados Unidos da América do grande e simpaticíssimo filósofo Donald Trump.
Em primeiro lugar, há bom tempo a economia de ponta e reguladora do mercado mundial já é registrada no relatório da OCDE abaixo da linha de tendência do ciclo (abaixo de 100).
Em segundo lugar, e mais importante, as variações mensais dos EUA neste ano de 2017 são crescentemente negativas. No entanto, os economistas da OCDE – mais políticos que economistas na medida em que a perspectiva da economia se agrava – diagnosticam para os EUA sinais de possível inflexão do crescimento.
Outro pomposo eufemismo para acelerada inflexão. Mais claramente ainda que na Itália, que pelo menos ainda se apresenta no relatório com a credencial acima da linha da tendência.
Acontece que a análise cuidadosa da situação da economia norte-americana é a providência mais importante para uma previsão do tempo mais precisa para a economia mundial. Se a economia alemã joga o papel regulador para a zona do euro, a norte-americana joga para o mercado mundial.
Por essas mais do que evidentes razões, dedicaremos um próximo e especial boletim semanal para observar na lupa as condições atuais de valorização do capital naquela economia de ponta do sistema.
Finalmente, no relatório da OCDE a previsão de tempo para a economia brasileira nos próximos seis meses é registrada como inflexão positiva de crescimento. E situa a maior economia do mundo do lado de baixo do Equador bem acima da linha de tendência do ciclo.
É um diagnóstico muito otimista, do ponto de vista dos capitalistas do imperialismo. Também não coincide com a avaliação da Crítica. Mais uma vez, como no diagnóstico dos EUA, uma avaliação dos técnicos da OCDE com mais política do que com economia.
Veremos, com mais cuidado, a partir dos próprios números apresentado no seu relatório, o porquê desta nossa discordância.
Assim, por razões meramente acidentais – dadas as relações geográficas e pessoais da redação da Crítica com o Brasil – a situação do tempo cíclico desta economia, do mesmo modo que a dos EUA, também merecerá um próximo boletim semanal da Crítica.