quinta-feira, outubro 31, 2024
Home > Diário do Capital > Capital mundial continua na UTI com respirador

Capital mundial continua na UTI com respirador

por José Martins, da redação.

Alguém viu o virtuoso e infalível livre mercado dos empresários privados passeando por ai? Não adianta procurar. Ele continua internado em estado grave na UTI, com respirador. Isso acontece desde o 1º trimestre do ano, quando o sistema capitalista mundial foi atingido por um novo período de crise de superprodução.

Os economistas, governos e grande mídia diziam, então, que a crise econômica havia sido provocada pela COVID 19 e que, passada a epidemia, por volta de meados do ano, a economia se recuperaria vigorosamente da crise.

Prometiam que a recuperação plena viria neste 4º trimestre do ano. Que o Natal seria mais festivo do que nunca. Explicavam doutoralmente até a forma como se daria esta “volta à normalidade”. Uma recuperação em forma de V, diziam eles. Quer dizer, depois de bater no fundo do poço, a economia subiria no 2º semestre para os “níveis pré-pandêmicos”. Lembram disso? O mais incrível é que muita gente acredita que foi isso que aconteceu.

Mas nada disso aconteceu. O que se presencia neste mês de dezembro é que o capital continua em todo o mundo entubado e socorrido pelo Estado com contínuos pacotes de estímulos fiscais, monetários e de crédito. E que as exigências de socorro aumentam.

Uma observação preliminar para entender este imbróglio todo: neste inicio de dezembro de 2020, não existe mais nenhum lockdown (bloqueio) na produção industrial, agrícola, mineração, transporte de mercadorias, energia elétrica e demais setores produtivos de capital na economia mundial.

Olho no lance: neste exato momento, não existe nenhuma indústria, em qualquer canto do mundo, que ainda enfrenta algum sinal de lockdown ou qualquer outra limitação de ordem sanitária para seu funcionamento.

Falando direto: o COVID 19 não atrapalha mais, como se supunha, o pleno funcionamento das esferas produtivas de valor e de mais-valia (capital real). As próprias esferas da circulação, improdutivas, como comércio, bancos, serviços, etc., estão quase que totalmente abertas. Mas o capital continua em estado de coma!

Ora, se não existe mais lockdown, ninguém poderia continuar dizendo, portanto, que o estado de prostração da produção e do emprego da força de trabalho em todas as economias do mundo deve-se ainda ao COVID 19.

Mas eles continuam dizendo. E vão continuar, claro. Senão, o que poderiam dizer? Que a verdadeira ameaça de morte à população mundial é a indissociável unidade de propriedade privada, mercado, capital e Estado? Esta unidade maligna que só se revela à luz do dia nas grandes crises gerais (catastróficas) do capital?

Outra coisa: se o capital tivesse realmente se recuperado da “primeira onda” da COVID 19, como eles ainda afirmam, também não seria preciso explicar a grande disputa política que se trava atualmente no centro do sistema (EUA puxando a fila) sobre a renovação em doses muito mais cavalares daquelas medidas de estímulo e de socorro estatais para salvar o capital e o funcionamento da sagrada propriedade privada.

Mas é exatamente isso que ocorre atualmente. E tem que ser explicado. É a grande questão política da crise atual. Trata-se de explicar por que essa intervenção do Estado na economia, hipocritamente criticada por esses capitalistas e seus economistas – o que, segundo eles, só atrapalharia o virtuoso funcionamento das leis naturais do livre mercado – continua sendo, mais do que alguns meses atrás, sua última chance de sobrevivência.

Contra fatos não há ideologia ou pós-verdade que se sustente. A crescente violência da crise econômica atual sobre a classe operária mundial (desemprego, miséria e fome absoluta) que não pode ser negada por ninguém, se encarregará de provar duas coisas,

A primeira, como visto durante este ano, que o que manteve até agora a economia respirando – e os mercados financeiros ainda acumulando vultosos lucros nos mercados de capitais e bolsas de valores em todo o mundo – foi a intervenção política massivamente estatizante da economia.

A segunda coisa, mais importante ainda, é que o atual agravamento da crise exige que o Estado continue praticando uma política econômica e monetária suicida de expansão desregrada dos gastos públicos para socorrer empresas privadas falidas e manter os trabalhadores desempregados ou em situação de miséria absoluta ainda comendo alguma coisa e pagando aluguel por algum barraco para se abrigar.

Uma política fiscal e monetária kamikaze muito mais volumosa para salvar a propriedade privada e evitar a revolução. Mas essa insanidade dos capitalistas e seus economistas pode ser bem sucedida? Eles garantem de pés juntos que sim. A redação da Crítica da Economia tem fortíssimas dúvidas.

No final das contas, tudo depende apenas de uma coisa. Apenas e tão somente de uma coisa: que o capital reaja e saia do estado de coma nos próximos dois semestres. Em termos reais. Que o capital volte a produzir valor e mais-valia (lucro) em massas e taxas adequadas até o final do próximo ano.

São doze meses de prazo. Improrrogavelmente!

Continuaremos tratando desta insondável possibilidade em nosso próximo boletim. Com o otimismo que toma conta de nossa redação com a proximidade de um Feliz Natal e mais um Próspero Ano Novo.

Deixe um comentário