A temperatura da conjuntura política nacional subiu com rapidez nos últimos dias e horas. A burguesia brasileira reunida em torno da grotesca figura de Michel Temer teme pelo seu próprio futuro. Quanto tempo vai durar este simulacro de governo que ela mesma instalou há pouco mais de seis meses? Se depender da economia, pouco tempo. Se depender da política, pelo que estamos a assistir nesta semana, menos ainda.
O mais importante de tudo na atual situação: nos últimos dias murchou com incrível velocidade a ilusão vendida pelo governo e a incompetente equipe de Henrique Meirelles, ministro da Economia, de que sua política econômica tinha um mínimo de consistência e poderia dar certo para as ambições dos capitalistas brasileiros e do imperialismo. Acontece que os indicadores econômicos e sociais deste mês de novembro mostram de maneira bastante convincente que, na verdade, a economia real não saiu nem deve sair tão cedo do mesmo plano inclinado e catastrófico deixado pelo governo deposto seis meses atrás.
Seis meses depois do impeachment de Dilma Rousseff a burguesia e seus vassalos da mídia se inquietam com o governo que eles impuseram ao país. De repente, o recém-empossado governo Temer já lhes parece velho. Como atesta com muita tristeza nesta sexta-feira (25), o jornal governista Folha de São Paulo: “O governo acaba de completar seis meses e já parece velho. A estratégia de conquistar legitimidade popular, com a retomada da economia e a estabilização política, rapidamente naufraga para um presidente que não teve a chancela do voto… A economia, tábua de salvação deste governo desde seu início, não colabora. A retomada não veio, contrariando prognósticos de que uma equipe econômica respeitada bastaria para ressuscitar o PIB. A previsão de crescimento de 2017 acaba de ser rebaixada para modesto 1%. O desemprego não cederá antes do segundo semestre do ano que vem, na melhor das hipóteses… Se há uma lição a ser tirada da queda de Dilma Rousseff é que a crise política e marasmo econômico são mortais quando vêm juntos. Escândalos em série, inabilidade política e o mau humor da população fazem lembrar os tristes estertores do mandato da petista. Um impeachment depois, nada de substancial parece ter mudado no comando do país”.
A ingovernabilidade não foi debelada. Nem mesmo diminuída. Parece que aumentou. A retomada econômica não veio, o governo mergulha na corrupção e, para salvar as centenas de políticos de todos os partidos das investigações policiais, patrocina as mais sórdidas manobras junto ao Congresso e sua famigerada “base aliada” – assim como o não menos famigerado Supremo Tribunal Federal (STF). Na alta temperatura desta sexta-feira em Brasília, frente ao caos político que se aproxima, só restou ao ex-presidente Fernando Henrique pedir aos seus seguidores paciência com a manifesta fragilidade do atual presidente: “Diante da circunstância brasileira, depois do impeachment, o que temos que fazer é atravessar o rio. Isso é uma ponte. Pode ser uma ponte frágil, uma pinguela? Tudo bem. Mas é o que tem. Se você não tiver uma ponte, você cai no rio. Não adianta fazer muita especulação… Não temos tempo a perder. Temos que ter rumo e pensar muito mais no país do que nas pequenas coisas” afirmou FHC ao chegar a um seminário do seu partido na Câmara dos Deputados, em Brasília, segundo a mesma Folha de S.Paulo.
O fato é que nem os mais cínicos defensores da estratégia de ajuste fiscal e de crescimento deste governo ainda mostram o mesmo entusiasmo de semanas atrás. Na próxima semana (dia 30) o IBGE deve divulgar os dados do PIB no 3º trimestre. A repercussão será tão pesada quanto a tampa que deve fechar o caixão já encomendado para o atual presidente.
A situação é de urgência para os capitalistas, como exprime acima FHC, procurando orientar e unir as diversas classes dominantes que se digladiam de forma mais intensa dentro de seu comitê de negócios chamado Estado nacional. Ele se preocupa com a fragilidade de quem deveria representar uma segura ponte política, mas que se revelou frágil pinguela nos últimos dias e horas. Preocupa-se então com o principal da situação: a fatal possiblidade de um salve-se quem puder da parasitalha nacional e imperialista querendo atravessar a fragilíssima pinguela ao mesmo tempo. Como competente sociólogo e experimentado ideólogo burguês, ele sabe melhor que os idiotas homens de mercado da sua classe que esse tipo de comportamento irracional das classes dominantes em momentos históricos de crise insolúvel do Estado tem um nome bem preciso: guerra civil e revolução.