terça-feira, outubro 29, 2024
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Kiev vale uma ponte

por José Martins, da redação

 

“O meio é a mensagem”, decretava explosivamente o brilhante antropólogo norte-americano Marshall McLuhan, lá pelos idos dos anos 1960. Tão explosivamente quanto a subversão do meio e da mensagem que o apresentador da emissora de televisão CNN estadunidense procurava transmitir diretamente de Kiev, capital da Ucrânia, ao vivo, na última segunda-feira (10).

Diante das câmeras e de poderosos meios de comunicação instantânea para toda a “aldeia global” (outra ideia muito popular de McLuhan), com a imagem panorâmica de Kiev ao fundo, o engomadinho locutor do jornal matinal da CNN procurava minimizar da maneira mais pasteurizada e tendenciosa possível notícias sobre a incrível enxurrada de misseis que a Rússia começava a despejar sobre todo o território ucraniano, desde a madrugada daquele dia.

Eis que senão quando o apresentador é interrompido pelo som surdo de uma enorme explosão nas proximidades do prédio da CNN. Ele olha para traz e, ainda assustado, procura se recompor e continuar com a transmissão de suas mensagens enganosas do que se passa na guerra ao seu redor. Mas imediatamente acontece outra explosão. Muito maior que a primeira.

O cenário balança. O locutor olha apavorado em direção das câmeras. Dá a impressão que vê todo mundo procurando escapar do estúdio. Ele se levanta, se desequilibra, ainda consegue se apoiar na mesa, que também balança, e foge em disparada.

A imagem se apaga. O meio e a mensagem também. Momentaneamente, pelo menos. A mudança profunda dos rumos da guerra entre Rússia e Ucrânia (leia-se EUA) estava sendo projetada da maneira mais inesperada.

Essa mudança profunda dos rumos da guerra na Ucrânia passa por uma ponte. As pontes são símbolos políticos potentes, e a ligação de uma ponte de 19 quilômetros através do Estreito de Kerch, que liga a parte mais continental da Rússia à sua província da Crimeia, foi uma façanha de engenharia com alto significado estratégico e de propaganda de Moscou.

Quando atravessou a monumental ponte de Kerch pela primeira vez, em 2018, Vladimir Putin a chamou de milagre. No ano seguinte, voltou para inaugurar o trecho ferroviário, andando na cabine do trem e sorrindo para as câmeras. Mais do que um milagre, devia estar pensando, um verdadeiro Arco do Triunfo da sua realpolitik.

No entanto, logo após uma explosão espetacular no início do sábado (8) que danificou gravemente a ponte, Putin e todos outros altos funcionários do Kremlin ficaram em silêncio. A primeira reação oficial só surgiu no domingo, de maneira tímida, em um breve comentário de Putin rotulando a explosão de “ataque terrorista”.

Os dirigentes da OTAN comemoraram. Disfarçadamente. Ruminando em voz alta em um evento de arrecadação de fundos, naquele mesmo dia, o presidente dos EUA, Joe Biden, expressou uma dúvida que está na mente de muitas pessoas que o cercam: “Estamos tentando descobrir, qual é a saída de Putin? Onde, onde ele desce? Onde ele encontra uma saída?”

Putin se encarregou ele mesmo de satisfazer a curiosidade do seu colega da Casa Branca. Segunda-feira (10), como resposta àquela sabotagem no estreito de Kerch, o exército russo amanheceu desfechando volumosas e didáticas explosões no coração de Kiev. Este é o meio: a guerra em novo patamar. E a mensagem: Kiev vale a ponte de Kerch.

Após um início dos bombardeios em Zaporizhzhia, sudeste do país, alertas de ataque aéreo se espalharam por toda a Ucrânia. Poderosos misseis, drones selvagens e peças de artilharia atingiram cidades em todas as regiões do país.

Ao contrário do que informam os meios de propaganda do regime, nada disso são fatos isolados e aleatórios, improvisados. Na verdade, Moscou está implantando nova e planejada escalada na guerra. Seguindo um plano estabelecido antes de fevereiro passado, quando invadiu o território da Ucrânia e iniciou a primeira etapa da guerra.

Isso é muito importante. Depois de atingir a uma semana Kiev e as maiores cidades do país com a mais intensa enxurrada de ataques desde os primeiros dias de sua invasão no território ucraniano Moscou deve manter estes sanguinários ataques em volume e intensidade, com mísseis de longa distância e alta precisão lançados do continente e do Mar Negro, Mar Báltico, caças, drones kamikazes e artilharia pesada no corpo a corpo do chão de batalha.

Para animar esta nova e estratégica escalada, a Rússia conta agora com um novo comandante do exército. Sergei Surovikin foi nomeado pelo presidente russo para comandar os novos ataques à Ucrânia, centrados principalmente nos centros militares estratégicos, usinas elétricas, malha de transporte ferroviária e infraestrutura civil do país. Até agora tudo isso ainda tinha sido relativamente (e inexplicavelmente) pouco atacado pelo exército russo. Tudo muda, a partir de agora. A ordem é destroçar a infraestrutura nos próximos meses de transição para um histórico inverno.

Nascido na cidade de Novosibirsk, na Sibéria, o gigante Surovikin tem 55 anos e é famoso pela brutalidade e linha-dura no comando. Conhecido pelos comandantes de exércitos em todo o mundo pelo apelido de “general Armagedon”. A mudança de estratégia no alto comando aconteceu já no sábado, após a explosão da ponte de Kerch e depois de o exército ucraniano reconquistar pequenas áreas de territórios dominados pela Rússia no nordeste e sul do país. Naquele dia, Putin demitiu dois altos comandantes militares e convocou o temido Surovikin.

Ele mal chegou ao novo posto e já tomou a frente destes últimos ataques contra usinas de geração de energia elétrica, linhas de transmissão, subestações de despacho de carga e, principalmente, um estratégico entroncamento ferroviário no oeste do país, no meio do caminho entre Lviv e Kiev. Os pesados danos infringidos a este entroncamento foi o primeiro grande feito de Surovikin. Por ele passa a maior parte dos armamentos e outros equipamentos militares internalizados pela OTAN neste espaço de guerra europeia.

Algumas grandes cidades deste palco de guerra também serão doravante alvos privilegiados do exército russo. Demolir grandes cidades é outra especialidade de Surovikin. Isso ficou mais do que comprovado quando ele comandou as forças russas na guerra da Síria, em 2017, em apoio a Bashar Assad. Foi acusado na mídia militar global de usar táticas “controversas”, supervisionando diretamente e no próprio local bombardeios indiscriminados contra cidades ocupadas pelos exércitos inimigos. Em uma das suas mais famosas dessas brutais ofensivas ele deixou a cidade de Aleppo em ruinas.

Todo mundo lembra das fotos. Mas o que pouca gente lembra é que naqueles escombros de Allepo o “implacável” Surovikin também sepultou, em definitivo, o grupo terrorista Estado Islâmico, criatura bastarda da realpolitik estadunidense e israelense no Oriente Médio pós-guerra do Iraque.

Mas ele nunca foi generosamente reconhecido nem pelas suas boas ações humanitárias. Poucas, é verdade. Como aquela fulminante lacração do chamado Estado Islâmico. Em 2020, a ONG Human Rights Watch o citou entre os líderes militares que poderiam ter “responsabilidade de comando” por violações de direitos humanos na Síria. “Ele é absolutamente implacável, com pouca consideração pela vida”, deixa bem claro o relatório.

Putin sabe melhor do que ninguém destas habilidades práticas do gigante siberiano. “Se as tentativas de cometer atos terroristas em nosso território continuarem, as respostas da Rússia serão duras e sua escala corresponderá ao nível de ameaça à Rússia”, declarou em comentários televisionados em uma reunião de seu Conselho de Segurança, na segunda-feira. “Ninguém deve ter dúvidas”.

Surovikin não tem nenhuma dúvida do que Putin está dizendo. Licença para matar. Como nos bons tempos na Síria, deve estar pensando. Talvez, também, com a lacração de Kiev e de todas as milícias neonazistas que a habitam.

Cerca de 40 cidades, vilas e vilarejos em todo o país foram atingidos desde a manhã da última quarta-feira (12), disseram os militares ucranianos, com autoridades relatando que 17 pessoas foram mortas só naquela quarta-feira.

Um ataque selvagem de drones iranianos atingiu a região de Kiev no dia seguinte, aumentando a ansiedade em uma região até agora relativamente poupada de ataques.  Outro ataque na mesma quinta-feira deixou pessoas soterradas sob os escombros de um prédio de apartamentos em Mykolaiv, importante cidade perto da costa do Mar Negro.

Oito mísseis caíram durante a noite na cidade, postou no Telegram, quinta-feira, o chefe da administração militar regional, Vitaliy Kim. O prefeito da cidade também relata que dois andares superiores de um prédio foram “completamente destruídos”.

Um menino de 11 anos foi resgatado depois de passar seis horas enterrado no prédio de cinco andares em ruínas, disse Kim. Em postagens posteriores no Telegram, ele disse que os socorristas que vasculharam o prédio recuperaram os corpos de um homem de 31 anos e uma mulher de 80 anos, e que o menino que foi resgatado morreu após ser levado para o hospital regional.

Kyrylo Tymoshenko, um alto funcionário do gabinete do presidente ucraniano Zelensky, disse que 11 pessoas foram mortas em ataques com mísseis na quarta-feira na região de Dnipropetrovsk, no centro da Ucrânia, e que uma pessoa ficou ferida. Ele postou no Telegram que duas pessoas foram mortas e outras 13 ficaram feridas na região sul de Zaporizhzhia, enquanto na região de Mykolaiv duas pessoas foram mortas na quarta-feira e outras seis ficaram feridas.

A região de Zaporizhzhia, em particular (e não por acaso) sofreu de maneira mais dolorosa o impacto dos recentes ataques da Rússia; o chefe de polícia regional relata que pelo menos 73 pessoas foram mortas lá desde o final de setembro, incluindo 30 que morreram quando três mísseis atingiram um comboio de pessoas que deixava a cidade principal em 30 de setembro.

Travam-se na região combates de infantaria entre os inimigos a pouca distância, corpo a corpo. Estes sanguinários enfrentamentos de jovens trabalhadores recrutados para a guerra dos patrões devem aumentar com a declaração de Moscou de que aquela província de Zaporizhzhia, que circunda a cidade de mesmo nome, agora faz parte da Federação Russa. Ao lado de três outras províncias, onde os combates também continuam violentos.

Qualquer ataque inimigo a essas províncias passa, doravante, a ser considerado um ataque ao território do Estado russo. O processo de integração à Federação Russa foi legitimado por referendos democráticos entre as populações locais. Isso foi há pouco mais de uma semana, com a maioria dos cidadãos votando pela integração formal à Rússia. Como o que ocorreu na Criméia, em 2014. Na época ninguém reclamou. Era outra a realpolitik EUA/Rússia.

As principais autoridades das forças imperialistas entrincheiradas na OTAN sentiram o golpe dos últimos acontecimentos. Sua triunfalista narrativa de que o exército russo estaria sendo derrotado com certa facilidade pelo bravo exército ucraniano é bruscamente emudecida.

Após a enxurrada de ataques operacionalizados pelo novo comandante do exército russo, a partir da última segunda-feira (10), os cavaleiros do apocalipse já reconhecem que Kiev precisa de ainda mais armas e munições, de massivos contingentes de ucranianos sendo treinados em território da OTAN (Polônia, principalmente), de mais comandantes estadunidenses e ingleses orientando a estratégia, a logística e os movimentos das tropas ucranianas.

A guerra, que já era encarniçada, sobe de patamar. Na madrugada deste sábado (15) as forças russas continuaram atacando infraestruturas de energia “críticas” na região de Kiev, causando “severa destruição”, postou no Facebook o operador de sistema de transmissão de eletricidade da Ucrânia,  Ukrenergo. Os reparos estavam em andamento.

Ukrenergo alertou sobre possíveis desligamentos de emergência e pediu aos consumidores que usem a energia com moderação. “Tais medidas dão aos nossos especialistas a oportunidade de estabilizar a situação o mais rápido possível e realizar o trabalho de restauração necessário”, afirmou.

O novo ataque ocorre depois de Putin dizer na sexta-feira (14) que sete dos 29 locais alvo de um bombardeio em massa na Ucrânia no início da semana “não foram danificados conforme planejado pelo Ministério da Defesa” e que “os ataques serão renovados”.

Subliminarmente, está dizendo que a Rússia não precisa utilizar armamentos nucleares para causar no lado inimigo um estrago equivalente. A Europa pode dormir sossegada. Mesmo que com o aquecedor do quarto desligado. Putin não está blefando.

Breaking News: os ataques voltaram a ser renovados, com extrema força, nesta segunda-feira (17). O horror voltou a cobrir os céus de Kiev. O exército russo lançou nova onda de drones kamikazes (parece que são iranianos) para atacar o centro de Kiev nas primeiras horas de hoje, estão informando autoridades ucranianas.

Ao mesmo tempo em que pressiona cruelmente Kiev, Moscou intensifica sua novíssima escalada militar visando à infraestrutura energética da Ucrânia. A missão de jogar a população da ucraniana na escuridão tem que ser concluída nesta passagem para o inverno.

Equipes de resgate retiraram 18 pessoas dos escombros de um prédio residencial que foi triturado por um bombardeio no distrito central de Shevchenkivskyi, informa o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko. Três pessoas, incluindo uma mulher grávida, foram encontradas mortas entre os escombros, de acordo com Klitschko. As autoridades isolaram parte do centro da cidade e os serviços de emergência trabalham para apagar enormes chamas.

“O inimigo pode atacar nossas cidades, mas não será capaz de nos quebrar”, disse uma mensagem postada no canal do Telegram do presidente Zelensky, le petit, que compartilhando imagens da operação de resgate. Alguém pode esclarecer o que ele quer dizer com esta frase?

Klitschko fala de coisas reais. Postou uma imagem dos fragmentos de um drone kamikaze que ele disse ter sido usado no ataque, instando os moradores a permanecerem em abrigos. Dos 28 drones que a Rússia lançou em direção à capital, cinco fugiram das defesas aéreas da Ucrânia, disse ele, não fornecendo detalhes sobre o que mais havia sido atingido. O resto dos drones foram interceptados, disse ele.

Houve também ataques com drones e mísseis em diversos outros lugares da Ucrânia. “Como resultado do ataque terrorista, as instalações de infraestrutura energética no centro e norte [regiões] da Ucrânia foram danificadas”, disse o operador de sistema de transmissão de eletricidade da Ucrânia, Ukrenergo. O trabalho de reparo está em andamento, disse ele, avisando que pode ser necessário introduzir apagões.

O rígido plano do exército russo deste novo desdobramentos da guerra parece ser, repita-se, além de destroçar Kiev, voltar-se cada vez mais para atingir a infraestrutura civil que cercam as principais cidades do território, interrompendo o fornecimento de eletricidade e combustível. E isso tem um prazo para execução, um curtíssimo-prazo, na exata medida que o inverno se aproxima e se estende para todos os lares da Ucrânia.

Washington, além de recomendar a todos seus cidadãos residentes na Ucrânia que se retirassem imediatamente do país, se apressou a anunciar no sábado (15) mais US$ 725 milhões em ajuda militar extra para a Ucrânia.

O pacote de emergência inclui mais munição para os moderníssimos (e não menos mortíferos) sistemas de artilharia de longo alcance HIMARS. A OTAN utilizou esses sistemas no período mais recente, sempre com a participação de soldados ucranianos como bucha de canhão, na sua contraofensiva militar no leste e no sul do país, conseguindo em breves estocadas atingir posições e provocando muitas baixas atrás das linhas russas.

O império contra-ataca: “Na esteira dos brutais ataques de mísseis da Rússia contra civis em toda a Ucrânia, a crescente evidência de atrocidades pelas forças russas e a firme e inequívoca rejeição por 143 nações nas Nações Unidas da tentativa de anexação ilegal de partes da Ucrânia pela Rússia, os Estados Unidos estão oferecendo assistência militar adicional para ajudar os orgulhosos defensores da Ucrânia a proteger seu país”, disse o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em comunicado.

Além de garantir mais encomendas de meios de destruição e generosas massas de lucro ao complexo militar-industrial estadunidense, Blinken apenas confessa sua capitulação ao fato consumado dos referendos livremente realizados pelas populações das províncias de Donbas, Kerson e Zaporizhzhia, e sua integração de fato e de direito à Federação Russa.

De todo modo, aumentar desbragadamente o consumo de armamentos é mais importante que uma batalha perdida. A guerra tem que escalar para o universo. Os capitalistas estadunidenses e russos agradecem.

Mas dizem que Blinken é um cara inteligente. Tanto que ele é conhecido nos meios da diplomacia internacional por uma interessante frase: “uma superpotência não blefa”.

Corretíssimo. Como cara inteligente, ele sabe mais do que ninguém que a Rússia é uma superpotência sui generis. Assim, para entender melhor a natureza desta misteriosa superpotência, ele certamente preferiria estar, neste momento, conversando animadamente com o ministro das relações exteriores da Rússia, Sergei Lavrov. Como fazia seu antecessor John Kerry, na época de Obama, quando traçavam seus planos de dominação conjunta da Europa e de outras áreas geoeconômicas menos nobres do mundo.

Mas muita coisa mudou no mundo real, neste meio tempo. A diplomacia se faz por outros meios bem menos confortáveis nestes sombrios anos 2020. É hora de agir, apenas isso.

A guerra é o mais poderoso dissolvente de contradições. Portanto, ela não irrompe e se espraia, para mais ou para menos, porque alguns grandes homens decidem. A nova etapa em que ela entrou na última semana, por exemplo, acontece unicamente porque seus elementos materiais propulsores só fazem aumentar. E ninguém é capaz de antecipar exatamente como e mesmo até onde esses elementos continuarão agindo.

Assim, EUA e Rússia, as duas superpotências que dirigem com exclusividade o processo desta guerra, só podem – nestas circunstâncias reais de um trimestre cada vez mais gelado, para o corpo e para a alma da humanidade – procurar ajustar seus planos originais de fevereiro deste ano a estas forças propulsoras das ações dos homens, em geral, e das classes sociais em particular.

A autonomia destas ações políticas é, portanto, sempre relativa. Mas não deixa de ser também determinante, pois é no interior desta cada vez mais limitada autonomia que se move a inteligência do processo e da ação revolucionária. Procuraremos o mais urgente possível observar e esclarecer melhor a nossos camaradas para onde parece estar apontando, neste último trimestre de 2022, essas forças materiais propulsoras de uma nova guerra mundial.

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