A produção da indústria brasileira cresceu 2,5% em julho ante mesmo mês do ano passado e 0,8% em relação a junho, informou nesta terça-feira (5) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
É o quarto resultado positivo seguido do setor. Isso foi o bastante para a máquina de propaganda do capital vender a ilusão de “forte recuperação da indústria”.
Como para o Sr. Meirelles, ministro da Fazenda, que declara triunfalmente: “Dados da Produção Industrial mensal do IBGE mostram que julho foi o quarto mês consecutivo de crescimento da indústria. O índice de 0,8% de crescimento em relação a junho ficou bem acima do esperado, mostrando que trajetória é de forte recuperação da indústria”
Para ele, o crescimento disseminado nas 4 categorias econômicas da indústria mostra que “a recuperação do setor será sustentável”. “A retomada do crescimento é fruto do trabalho sério que tirou o Brasil da maior recessão de sua história e garantiu a queda da inflação. Estamos reduzindo o desemprego e criando mais vagas de trabalho. A recuperação será ainda mais forte com a implementação da agenda de reformas”, finalizou. (G1 Globo)
Os economistas e a mídia seguem o mesmo diapasão do sinistro ministro de que as perspectivas são as melhores possíveis. Salientam que este foi o melhor mês de julho desde 2014, quando a taxa foi de 1,3%.
E comemoram o fato que foi o maior avanço para julho em 4 anos – desde 2013, quando o setor cresceu 3,4% frente a julho de 2012. Já frente a junho, o resultado foi o melhor para o mês em 8 anos – desde 2009, quando o setor avançou 1,4%.
Isso tudo é suficiente para se dizer que o país saiu da recessão? Apesar desta fanfarra da torcida adversária não acreditem muito nisso. Uma análise não compromissada com a sobrevivência da moeda e da propriedade privada mostra que nem tudo são flores para o capital.
Ao contrário. Pouca coisa importante mudou na sinuca de bico que a economia do imperialismo meteu a produção industrial nacional.
Vejamos alguns indicadores deste rígido processo de desfalecimento produtivo do capital. Tomemos um gráfico do próprio relatório do IBGE, que ilustra bem esse processo de incorrigível estagnação da produção industrial.
Indústria Geral
Índice de Base Fixa Móvel x
Índice de Média Móvel Trimestral.
Primeira observação: a ideia de uma hipotética “recuperação” da produção nos últimos três ou quatro meses não se confirma nos fatos. O que existe no Brasil real é uma estagnação que já dura dezoito meses, marcada por pequenos espasmos de produção, como este que acaba de ocorrer no mês de Julho.
Vejamos a coisa na lupa. Como pode ser facilmente visualizado no gráfico acima, a produção industrial brasileira atingiu seu pico de expansão no mês de Junho de 2013. A partir daquele mês inicia-se um período de queda abrupta e contínua. Essa queda só foi interrompida 30 meses depois, em Janeiro de 2016.
A interrupção da queda não ocorreu porque o governo fez alguma coisa para isso. Ocorreu a despeito do governo de plantão. Só um governo que é capaz de interromper a queda pode ser capaz também de recuperar o crescimento.
A interrupção da queda – provocada por razões endógenas da valorização do capital no Brasil – ocorreu porque a produção havia chegado ao fundo do poço. Passou a viver do giro de estoques desvalorizados. De janeiro de 2016 em diante, como se pode visualizar na curva acima, instala-se a estagnação.
A derrocada foi substituída pela estagnação. Reprodução simples do capital. Mesmo assim precariamente, dependente do relógio global.
Uma estagnação marcada por voos de galinha. Nos últimos dezoito meses, a estagnação da produção industrial brasileira foi marcada por contorções de altos e baixos, sem alçar voo com um mínimo de consistência para iniciar novo período de expansão.
Esses voos de galinha – que os homens do mercado consideram como “trajetória de forte recuperação da indústria” e outras bobagens como a de que “a recuperação do setor será sustentável” – não passam de oscilantes ajustes de estoques de curto-prazo de mercadorias. Um fenômeno meramente circunscrito à esfera da circulação simples das mercadorias.
Isso que estamos a chamar de ciclos de estoques de mercadorias de curto-prazo é determinado pela demanda corrente, quer dizer, pela demanda individual de bens de consumo. Essa última, ao contrário da demanda por armamentos, por exemplo, é totalmente estéril para a retomada de novo ciclo de expansão.
No caso brasileiro atual, esse processo de realização de estoques não consegue influir nem mesmo para a elevação do nível de utilização da capacidade instalada e nem, consequentemente, para a diminuição do desemprego da força de trabalho. Muito menos ainda para a ampliação desta capacidade.
Além do mais, nessas erráticas oscilações da produção industrial brasileira dos últimos dezoito meses, a demanda externa (exportações) tem sido determinante para girar os estoques das empresas, como vimos em nosso boletim anterior.
Esta improvisada globalização da produção de isoladas empresas industriais, como vimos nos ramos produtores de automóveis, pode até aumentar a sua massa de lucro, mas diminui ainda mais os preços de produção e, consequentemente, a taxa média de lucro da totalidade da indústria.
Para concluir, outras anotações em torno da relação orgânica dos números do mês de Julho/2017 com a evolução ocorrida no interior do atual período de expansão global iniciado em 2009 e comandado pela economia dos EUA.
A queda de 1,1% no acumulado de doze meses, que aparece no relatório do IBGE desta semana, é o 38º resultado negativo consecutivo nesta base de comparação. Esta última ainda é muito baixa, pois a queda no período janeiro-julho de 2016 foi de 8,4%.
No geral, a produção industrial caiu 17,2% desde o pico de Junho de 2013, como mostrado acima. Essa queda quer dizer que a indústria se ainda encontra, em julho de 2017, no mesmo patamar de março de 2009.
Quer dizer, desde janeiro de 2016 a produção industrial continua estagnada em um patamar de crise global (março de 2009). E não sairá desta estagnação porque lhe falta oxigênio, quer dizer, expansão da capacidade produtiva de capital instalada. É o que a economia vulgar chama mistificadamente de “falta de novos investimentos”.
O simples escoamento de estoques não resolve o problema. Não ocorre, como vimos acima, nem mesmo pequenos sinais de reutilização da capacidade produtiva instalada.
Sem dinamizar a produção industrial a economia brasileira permanece como um resíduo amorfo e estagnado no vácuo de uma economia mundial que continua se expandindo fortemente nas principais economias dominantes e, em menor medida, nas principais economias dominadas.
O fato mais importante para se discernir as perspectivas reais da economia brasileira é que ela apresenta atualmente particularidades frente às demais economias dominadas, como China, Índia, Rússia, México, Turquia, etc..
São essas particularidades da acumulação do capital no Brasil que explicam o fato dela permanecer no limbo da estagnação, quando as demais grandes economias dominadas apresentam crescimento econômico – não tão elevado, mas, pelo menos, compatível com as condições gerais do atual período de expansão global.
Continuaremos com esse intrincado assunto, cujo entendimento, como se pode observar com as reações do mercado ao relatório do IBGE, nesta semana, passa muito longe das costumeiras fanfarronices dos homens do mercado e seus áulicos economistas.
4 thoughts on “Brasil: a produção industrial cai e se contorce no fundo do poço”