quarta-feira, maio 8, 2024
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Allons Enfants…

La Souterrain é uma minúscula cidade no centro da França, província de La Creuse, Limousin. População de pouco mais de cinco mil pessoas. Grande parte delas depende do salário que recebem em troca da venda de sua força de trabalho à empresa fabricante de autopeças GM&S Industry – mais uma dentre tantas empresas francesas ameaçadas de falência.
O problema é que seus operários não aceitam essa fatalidade empresarial capitalista que ameaça a vida deles e de suas famílias. Para eles, isso não acontece como uma coisa natural.
Ameaçados de fatal desemprego pela iminente falência desta fornecedora de autopeças terceirizada da Peugeot e Renault seus operários declaram que estão “prontos para tudo”. Decidiram, na quinta-feira, 11 de Maio, ocupar a fábrica. E ameaçam explodir o local.
Da melhor maneira possível, quer dizer, de maneira prática, totalmente contrária aos protocolos do regime democrático, os operários de Souterrain não aceitam a ideia de que a economia do capital, o mercado, o Estado e a propriedade privada são coisas naturais, não históricas.
Várias ações já foram realizadas. Feita a ocupação, os operários já destruíram várias máquinas da linha de produção. Pelas imagens transmitidas pela televisão dá para vê-los destruindo uma máquina de controle numérico e uma prensa. Quando ainda não conseguem destruir os proprietários destes meios de produção…
São apenas ações simbólicas para mostrar sua exasperação frente aos movimentos destruidores do capital. Não vão parar por aí. Não devem parar por aí Os assalariados avisam que se não obtiverem garantias das grandes montadoras de manter suas encomendas e evitar o fechamento da terceirizada GMS eles mandarão todas as instalações para os ares. Os preparativos para a grande explosão já são visíveis. Enormes botijões de gás industrial foram espalhados por vários locais da planta industrial. Só aguardando a espoleta.
Nesta manhã de sábado (13 de Maio) a fábrica continua ocupada e a mobilização ganha força. Ficar firmes, mobilizados após horas e noites passadas ocupando a fábrica. Os operários da GM & S permanecem todos juntos na ocupação, agora 24 horas por dia. Todos querem se manter unidos para manter a vontade de lutar.
Dentro da fábrica paralisada, em alguns momentos os nervos relaxam um pouco. Cada um revela às câmeras sua história e sua cólera pelos seus patrões. Uma cólera compartilhada não só pelos operários da fábrica, mas também pelas pessoas próximas e seus familiares, cujo destino também está ligado ao que pode acontecer com a fábrica. Uma cólera apontada às grandes montadoras automobilísticas francesas que, segundo o sindicato dos trabalhadores “planificaram e organizaram seu desengajamento do nosso parque industrial”.
Isso é o mais importante. A dramática situação dos operários de Souterrain não é um caso isolado na França. É por isso que, ameaçando explodir a fábrica, em 11 de Maio, os 283 operários da GM&S atraíram a atenção da mídia nacional. Em algumas horas, seu combate assumiu uma dimensão nacional. O problema que ocorre naquela fábrica vai bem além de la Souterrain.
Todos os franceses sentem na pele que o que acontece em Souterrain já está acontecendo ou pode acontecer brevemente em sua cidade e com seus empregos. Sentem que o fim da possibilidade de trabalhar para sobreviver pode atingi-los. Os operários de Souterrain estão pagando para ver. Querem ir até o fim do combate. Mantém a esperança que a fábrica onde eles precisam trabalhar para sobreviver possa um dia reiniciar a produção. Allons enfants.

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