A identidade da nossa equipe de trabalho se confunde com a gênese e evolução do nosso boletim semanal. Essa nossa aventura histórica chamada CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA completa 30 anos de vida em maio de 2017. Mais de trinta atrás, um grupo de dedicados operários das regiões da Grande São Paulo, Campinas, Itu, Sorocaba e Baixada Santista, no Brasil, vinham toda quinta-feira à noite à sede do Núcleo de Educação Popular 13 de Maio para estudar e analisar a situação da economia internacional e brasileira. Foram aqueles companheiros que nos incumbiram de redigir um boletim semanal que deveria sintetizar o tema econômico e político debatido na reunião semanal e, em seguida, distribuído para outros trabalhadores nas mais diversas regiões do país. Tempos depois passou a ser distribuído também para outros países.
Um boletim semanal de crítica da economia política. Exatamente na primeira semana de Abril de 1987 publicamos o primeiro. E não paramos mais. Foram quase mil e quatrocentas edições semanais. Sem interrupção. As pequenas pausas, depois compensadas, foram devidas a breves problemas de saúde ou a viagens mais longas do nosso redator.
Reproduzimos os originais daqueles primeiros boletins na seção “Trinta Anos Atrás” deste site que inauguramos há pouco mais de três anos. Publicaremos progressivamente, a cada semana, mais exemplares daqueles antigos boletins.
É um fato inédito essa excepcional longevidade de trinta anos ininterruptos. Simples folhas de papel contendo frente e verso de críticas análises semanais dos fatos econômicos e políticos. Como se justifica tal transgressão? Um trabalho simples, mas com origem e caráter muito claros: a defesa intransigente da teoria crítica (Marx e Engels) e dos interesses imediatos e gerais da classe proletária mundial. Como? Através de dois movimentos simultâneos: primo, crítica da economia real, da existência prática do ser capital; secondo, crítica da economia política dos capitalistas, quer dizer, da atividade ideológica dos seus economistas e outros reformadores sociais acerca daquela economia real.
Cremos que a excepcional longevidade do boletim pode ser explicada por essa prática teórica de reafirmação de caráter e identidade de classe. Longe de crenças, ideologias e outras bobagens. Unicamente com a crítica do mundo real e dos fatos materiais que se desenrolam sob nossos olhos, no dia a dia do regime capitalista e da correspondente luta de classes.
O único redator do boletim neste tempo todo (e responsável pela referida linha programática) foi José Antônio Martins. [1] Mas, no exato ritmo da evolução daquela prática teórica, redator e boletim chegaram à sua avançada idade através de sucessivas superações. Nada ficou estagnado. Em primeiro lugar, um esforço permanente de aprofundamento da análise e da investigação dos fatos reais das duas principais esferas materiais do regime atual – as esferas da totalidade da economia e da geopolítica. Da globalização do capital e da sua orgânica ação imperialista. Foram progressivamente modificados a linguagem do boletim, o estilo de redação, seu próprio nome e sua forma de apresentação. Assim, a precursora Análise da Conjuntura mudou seu nome para Análise Semanal da Economia alguns anos depois. Com o passar do tempo, mudou para Crítica Semanal da Economia.E recentemente, com a inauguração deste site, para Crítica da Economia.
Não sabemos por quantos anos mais seremos capazes de continuar vivendo nossa apaixonada aventura. O certo é que, doravante, a continuidade se dará em meio a maiores dificuldades e crescentes ameaças. Os ataques contra nosso trabalho – tanto dos ideólogos mais ou menos liberais quanto dos reformadores sociais mais ou menos estatizantes, travestidos ou não de “marxistas” – reaparecem com fogo redobrado nas triunfantes recuperações burguesas das sucessivas crises periódicas do capital ocorridas nos últimos trinta anos. Hoje estamos mais do que nunca isolados e marginalizados pela democracia e seu correspondente Estado-capital. Mas essa realidade totalitária da civilização não é nenhuma surpresa para nós. Ao contrário, as pressões, sabotagens, obstáculos institucionais crescentes para a continuidade da publicação, a penúria para a sobrevivência da equipe, etc., só servem para nos tranquilizar quanto à seriedade do nosso trabalho.
Uma verdadeira revolução, como inscrito em relevo na economia política dos trabalhadores (como Marx chamava sua própria teoria) só pode acontecer na esteira de uma grande crise geral e catastrófica do capital. Se nos limitássemos em apenas explicar a sensual e mutante anatomia do mundo capitalista e nos dedicássemos a uma ou outra obscena discussão ideológica o nosso boletim não teria nenhuma identidade e não teria completado nem um ano de vida. Ao contrário da anatomia, entretanto, buscamos a necrologia do capital. A procura obsessiva pelos pontos de fratura do ser capital e a previsão da crise geral que varrerá todo lixo ideológico e totalitário do atual estágio do reino do capital e abrirá as portas para a revolução.
Crise catastrófica e revolução, uma é tão certa quanto a outra. Mas não existe crise permanente do capital, só crise periódica em permanência. Em Maio de 2014, quando inauguramos este nosso site Crítica da Economia observávamos que nos encontrávamos mais uma vez, como tantas vezes nos últimos vinte e sete anos, no meio de mais uma sanguinária recuperação cíclica e expansão global do capital. Exploração redobrada da classe operária internacional; totalitarismo aprofundado dos Estados das diferentes burguesias nacionais; sufocante separação dos meios de produção, solidão dos indivíduos reais e da espécie humana nas cidades modernas e nas cadeias globais de produção de capital. Entrementes, dizíamos, do mesmo modo que para Marx e Engels, “o movimento contraditório da sociedade capitalista se faz sentir ao burguês prático da maneira mais concreta pelas vicissitudes da indústria moderna através do seu ciclo periódico, cujo ponto culminante é a crise geral. Já percebemos o retorno dos seus sintomas; ela se aproxima novamente; e com a universalidade do seu campo de ação e intensidade dos seus efeitos, ela fará a dialética entrar na cabeça até mesmo dos empreendedores empresariais e especuladores capitalistas que se multiplicaram como praga no novo e sacro império global”.
Nossos estudos indicavam em 2014 que o retorno de mais um pesado período de crise deveria ocorrer entre a segunda metade de 2014 e final 2016. Nos próximos trimestres, à medida que ela se aproxima, precisaremos melhor e mais exatamente a data da sua eclosão. Mas também a forma como se dará essa eclosão. Desta vez, finalmente, são bem maiores as possibilidades de derrocada da China e do Japão, seguida de abalos muito mais profundos do que em 2008/2009, tanto na velha e decadente União Europeia, quanto na delirante Wall Street, no coração da cidade global. O que já se pode adiantar é a possibilidade muito grande de que esse novo choque cíclico se transforme em uma verdadeira crise geral, em uma grande depressão. Que Marx e Engels nos ouçam!
Ora, quando isso acontecer, nosso boletim terá completado trinta anos de vida. Existe melhor motivação para continuar? Pelo menos por mais cinco anos? Ou mais? Nosso desejo de continuar é muito grande. E de ampliar. Por isso, depois dos primeiros anos do lançamento, a remodelagem e melhoria na apresentação deste site que denominamos Crítica da Economia. Tudo que for publicado nesta nova forma da Crítica Semanal da Economia já nascerá com a identidade invariante dos seus princípios. A identidade da Crítica da Economia, qualquer que seja sua forma de manifestação, encontra-se enraizada na aventura histórica da Crítica Semanal da Economia.
Mas continuar e ampliar nossa aventura não depende só de nossa equipe 13 de Maio Crítica da Economia. Para irmos além dos trinta anos (e muito mais) precisamos da companhia de vocês, nossos fiéis camaradas que nos acompanharam nesses trinta anos de trabalho. Todos sabem que dependemos apenas de vocês, que não temos nenhuma relação ou apoio de formas de partidos, organizações, sindicatos, movimentos organizados, etc. Isso não é um problema, é uma característica indispensável ao nosso trabalho.
Somos simplesmente uma equipe de trabalho que contribui para a manutenção do partido histórico, tal como definido por Marx. Trabalhamos organicamente ao Núcleo de Educação Popular 13 de Maio em sua forma original de trinta anos atrás também sem nenhum tipo de direção, representação, hierarquia, totalmente desvinculado de qualquer organização formal, burocrática ou atividade política democrática e institucional.
Queremos agradecer a todos camaradas, repetindo o que já fizemos ao completar vinte anos. É muito longa a lista de companheiros, companheiras e associações comunistas libertárias de trabalhadores que participaram ou apoiaram decisivamente a manutenção material e continuidade do nosso boletim. Agradecemos a todos que, diretamente ou anonimamente, contribuíram para o nosso crescimento e para chegar até aqui com uma orgulhosa certeza de dever cumprido: honrar nossos antepassados lutadores da classe proletária internacional que, mais uma vez reunidos, trinta anos atrás, às quintas-feiras à noite, na então sede do Núcleo de Educação Popular 13 de Maio, em São Paulo, Brasil, nos incumbiram de fazer um boletim simples, mas profundo, radical, capaz de atender e contribuir às necessidades de manutenção e desenvolvimento teórico da classe operária internacional.
José Martins é economista; Mestre e Doutor em Ciência Econômica pela Université de Paris I Panthéon-Sorbonne. Atualmente é professor de Economia Política Internacional no Departamento de Ciência Econômica da Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, Brasil. Autor de vários livros, dentre os quais “A Riqueza do Capital e a Miséria das Nações” (1994); “Os Limites do Irracional – globalização e crise da economia mundial” (1999); “O Império do Terror – Estados Unidos, Ciclos Econômicos e Guerras no Início do Século 21” (2004).