Uma boa maneira de localizar as áreas e países mais estratégicos para a produção e acumulação do capital global é seguir as rotas dos chamados Investimentos Externos Diretos (IED) pelos mares e oceanos afora. O Brasil, por exemplo, é um espaço de valorização (produção de lucro) pouco ou muito importante nas cadeias produtivas globais? Quem já respondeu (precipitadamente) que o capital global não dá muita importância para este fim de mundo da civilização terá uma grande surpresa com os resultados que começamos agora a apurar.
Acontece que um dos melhores indicadores da importância de uma economia nacional para a acumulação do capital mundial é o volume de IED que ela recebe. O que é IED? É fluxo de capital-dinheiro que empresas globais deslocam para regiões ou países longe das suas sedes, seja para novas instalações industriais, seja para ampliar outras já existentes. É capital produtivo de mais-valia, aplicado principalmente na capacidade produtiva industrial. Diferente de dinheiro-capital – ou capital-financeiro, fictício, especulativo, etc. – que circula mundialmente pelas bolsas, títulos públicos, mercados de commodities, monetários, etc. Receber muito IED não quer dizer uma coisa boa para a economia. Nem que esta economia seja mais desenvolvida ou mais poderosa que outras economias que importam menos IED. Ao contrário, quer dizer apenas que ela oferece condições muito mais favoráveis que as outras para a exploração capitalista e para as empresas globais que nela se instalam para acumular lucros.
Os dados para se verificar a repartição atual do IED no planeta podem ser encontrados no mais recente “World Investment Report 2014”, publicado anualmente pela United Nations Conference on Trade and Development – Unctad, das Nações Unidas. Para responder àquela pergunta – se o Brasil é ou não é um espaço de valorização importante para a o sistema capitalista – observem os dados abaixo do gráfico retirado do relatório da Unctad, que indica as 20 economias que mais receberam IED (FDI em inglês) em 2012 e 2013:
O Brasil encontra-se entre as cinco primeiras economias do ranking mundial das que mais recebem IED. A primeira é a economia dos Estados Unidos, que em 2013 recebeu US$ 188 bilhões. Além dos EUA, o Brasil está abaixo apenas da China (US$124 bi); Rússia (US$79 bi); e Hong Kong (US$77 bi). O cálculo “per capita” destes volumes (divididos pela população dos respectivos países) colocaria o Brasil na frente da China e Hong Kong somados.
Esses dados mostram que a economia brasileira é muito mais receptiva e conveniente ao capital multinacional que a própria economia chinesa. É um dos mais importantes territórios de caça de mais-valia no mercado mundial. Não temos tempo agora para analisar as razões econômicas desta realidade inesperada para a maioria das pessoas. Importa salientar, por ora, o seguinte: as análises da natureza e perspectivas dos fenômenos sociais, políticos e geopolíticos no Brasil deve considerar essa importância econômica estratégica do país como variável de peso.
No relatório da Unctad existem muitas outras informações e relações importantes que podem ser evidenciadas posteriormente. A comparação desta função do Brasil com demais países da América Latina, por exemplo. Voltaremos a este e outros pontos importantes proximamente.